Maria na experiência
espiritual de São Vicente de Paulo
Vicente de Paulo fixa sua atenção sobre três ícones, três mistérios que envolvem a vida de Maria e
explicitam sua missão: a Imaculada
Conceição, a Anunciação e a Visitação. A espiritualidade mariana de
Vicente de Paulo situa-se no núcleo de sua experiência espiritual: dar-se a
Deus para servir aos Pobres.
1.
A Imaculada Conceição
São Vicente vê, no mistério da Imaculada Conceição, a Virgem humilde e
casta, vazia de si mesma para acolher a
Deus e deixar-se plenificar por ele. Atitudes fundamentais para os que
querem esvaziar-se de si mesmo e revestir-se do espírito de Cristo: “Previu Deus, pois, que, como era preciso
que seu Filho tomasse carne humana de uma mulher, era conveniente que a tomasse
de uma mulher digna de recebê-lo, uma mulher que estivesse cheia de graça,
vazia de pecado, enriquecida de piedade e preservada de todos os maus afetos.
Apresentou, então, diante de seus olhos todas as mulheres que havia no mundo e
não encontrou nenhuma tão digna desta grande obra como a puríssima e imaculada
Virgem Maria. Por isso, se propôs, desde toda a eternidade, preparar esta
morada, adorná-la com os mais admiráveis e dignos bens que pode receber uma
criatura, a fim de que fosse um templo digno da divindade, um palácio digno de
seu Filho. Se a previsão eterna pôs, desde então, seus olhos para descobrir
este receptáculo do seu Filho e, depois de descobri-lo, adornou-o com todas as
graças que podem embelezar uma criatura, como ele mesmo declarou pela boca do
anjo que lhe enviou como embaixador, com maior razão haveremos de prever o dia
e a disposição requerida para receber-lhe!” (SV XIII, 35).
► Acolher a Deus, encher-nos de Deus, revestir-nos de Jesus
Cristo, vazios de nós mesmo, como a Imaculada, tal é o primeiro desafio que
Vicente de Paulo nos propõe, à luz do exemplo da Virgem Maria.
2.
A Anunciação
A humildade prepara e sustenta a oferta de si a Deus. Conhecer Deus e
reconhecê-lo como único Senhor, saber-se
pequeno diante dele, dar-se a ele para servir ao próximo, para realizar a sua
obra, é o segundo movimento que Vicente descobre em Maria, a partir do ícone da
Anunciação: “É preciso reconhecer a
essência e a existência de Deus e ter algum conhecimento de suas perfeições
antes de oferecer-lhe um sacrifício. Isso é natural, pois a quem ofereceis
vossos presentes? Aos grandes, aos príncipes e aos reis. A esses é que rendeis
vossa homenagem. Tão certo é isso que Deus observou esta mesma ordem na
encarnação. Quando o anjo foi saudar a Virgem Maria, começou por reconhecer que
estava cheia das graças do céu: Ave, gratia plena. Senhora, estás cheia e cumulada dos favores de Deus; Ave, gratia
plena. Assim a reconhece e louva-a como
cheia de graça. E o que faz em seguida? Aquele lindo presente da segunda pessoa
da Santíssima Trindade. O Espírito Santo, reunindo o sangue mais puro da
Santíssima Virgem, formou com ele um corpo; depois, Deus criou uma alma para
informar aquele corpo e, em seguida, o Verbo se uniu àquela alma e àquele corpo
por uma união admirável e, desta forma, o Espírito Santo realizou o mistério
inefável da encarnação. O louvor precedeu o sacrifício” (SV XII, 226-227).
► Como Maria na Anunciação, somos chamados a dar-nos inteiramente
a Deus para realizar a sua obra: “Assim,
pois, diz-se que é necessário buscar o Reino de Deus. Isso não é mais do que
uma palavra, mas parece-me que diz muitas coisas. Quer dizer que temos de
trabalhar de tal modo que aspiremos sempre ao que se nos recomenda, que
trabalhemos incessantemente pelo Reino de Deus, sem ficarmos numa situação
cômoda e parados (...). Buscai,
buscai, isto quer dizer preocupação, isto quer dizer ação” (SV XI,131). A adesão
de Maria à iniciativa de Deus serve-nos de estímulo na fidelidade ao dom da
vocação.
3.
A Visitação
Vazios de nós mesmos e entregues a
Deus, nossa vida está a serviço dos
pobres: “vós vos destes a Deus para o
serviço dos pobres”, recordava, com insistência, nosso fundador. São Vicente descobre na Visitação de
Maria a Isabel este terceiro movimento do caminho espiritual e propõe a
prontidão e a solicitude de Maria na Visitação como modelo para o serviço dos
pobres: “Honrarão a visita da Santíssima
Virgem quando foi visitar sua prima com prontidão e alegria” (SV XIII,
419). E assim deduzirá as aplicações concretas para a vida da Filha da
Caridade: “A Companhia das Filhas da
Caridade foi fundada para amar a Deus, servi-lo e honrar Nosso Senhor, seu amo,
e à Santíssima Virgem. E como o honrareis? Vossa Regra vos indica, fazendo-as
reconhecer o plano de Deus em vossa fundação: para servir aos pobres enfermos,
corporalmente, administrando-lhes tudo o que lhes é necessário; e
espiritualmente, procurando que vivam e morram em bom estado” (SV IX, 20).
► Em toda e qualquer circunstância, São Vicente sempre nos
conduz aos pobres. Como Maria, nossa vida é doação total a Deus para o cuidado
e a promoção dos irmãos mais pobres.
INSPIRAÇÃO BÍBLICA: Lc 1,26-38 (Anunciação)
Lc 1,39-56 (Visitação)
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