Conferência de 23 de outubro de 1658[1]
Uma vez que os estudantes estavam preparados para começar os estudos de
filosofia, foram levados pelo Padre Guillot, sacerdote da Companhia e diretor
dos mesmos, para visitar o Padre Vicente e, postos de joelhos diante dele,
pediram-lhe sua bênção. Ele lha concedeu, pondo-se também de joelhos, como
costumava fazer. Recomendou-lhes muito que estudassem com o espírito que Nosso
Senhor deseja, a fim de servir melhor a Deus e com maior utilidade ao próximo;
que tivessem muito cuidado para que o orgulho não se apoderasse de seus
corações pelo desejo de sobressair-se, de serem elogiados, de ter êxito nos
estudos; muitos jovens, ao saírem do noviciado e do seminário, se perdem, com
freqüência, por esse motivo e perdem o espírito do seminário. Pois bem, para evitar que esse mal nos
aconteça, irmãos meus, não procureis alcançar êxitos, obter prêmios, nem vos
distinguir na argumentação, seja defendendo, seja objetando; mas desejai,
aspirai e pedi muito a Nosso Senhor que vos conceda a graça de amar e de
praticar a humildade em tudo e por tudo, de gostar do desprezo de vós mesmos,
de não buscar nem desejar mais do que isso e, sobretudo, de pensar que, se tendes
algo em vós mesmos que vos faz dignos de um pouco de estima, é porque Deus
vo-lo deu. Vivei, meus irmãos, com este espírito; procurai, meus irmãos,
conservá-lo, se é que já o tendes; e se não o tendes, pedi-o insistentemente a
Nosso Senhor. Que a filosofia que ides aprender vos sirva para amar e servir
melhor a Deus, para elevar-vos até ele por amor e que, ao mesmo tempo em que
estudais a ciência e a filosofia de Aristóteles e aprendeis todas essas
divisões, aprendais também a de Nosso Senhor e suas máximas e as ponhais em
prática, de forma que tudo o que aprendeis vos sirva, não para encher de
orgulho os vossos corações, mas para servir melhor a Deus e à sua Igreja. A
filosofia é muito útil a uma pessoa, quando a mesma se serve dela como é devido
e com o espírito que Nosso Senhor deseja; quando se age de outro modo, só serve
para levar as pessoas a se perderem e para tornar seus corações orgulhosos.
Inspiração bíblica: Ef 3,
14-21; Sl 19 (18).
Para
refletir:
1. A filosofia está contribuindo para o amadurecimento
das minhas convicções, para a ampliação da minha visão de mundo e para o meu
processo de humanização?
2. Os estudos têm-me despertado para a experiência de
Deus e para uma opção existencial por ele?
3. Tenho sido interpelado pela filosofia a uma maior
abertura ao outro e a um compromisso efetivo com a transformação da realidade,
ou tenho permitido que o orgulho intelectual me encastele em mim mesmo?
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