domingo, 25 de maio de 2008

PADRES LAZARISTAS - CONGREGAÇÃO DA MISSÃO


Estiveram reunidos em Recife entre os dias 22 e 25/05/08 Padres Diretores Provínciais da CM do Brasil. (Foto: Celebração Eucarística da V AN JMV do Brasil)
Conheça um pouco mais desses servos dos pobres no link abaixo!
http://www.pbcm.com.br
SEJA VOCÊ TAMBÉM UM LAZARISTA!!!

domingo, 11 de maio de 2008

MARIA - VOCACIONADA POR EXCELÊNCIA!!!


PREÂMBULO Pierre ChouardPresidente Geral de 1954 a 1969


A SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO NO MUNDO MODERNO


I – RECORDAÇÃO DAS FONTES


Retorno às origens da Sociedade de São Vicente de Paulo.Intenções primeiras, intenções de sempre
Em 1833, em Paris, Antônio Frederico Ozanam, então estudante com 20 anos de idade, e alguns jovens amigos sentiram com Emanuel Bailly, o mais idoso, a inspiração de se unirem para o serviço aos pobres, da maneira mais humilde e discreta, no âmbito de sua vida familiar e profissional de leigos.Sentiam, primeiramente, a necessidade de dar testemunho de sua fé cristã, mais por atos que com palavras. Consideravam como seus irmãos os infelizes, quaisquer que fossem eles e a espécie de seu sofrimento. Neles viam o Cristo sofredor. Amavam-nos como homens e como filhos de Deus. Neles reconheciam a dignidade de homens confrontados com o mundo e suas misérias, e também a dignidade daqueles aos quais, em primeiro lugar, é dado o Reino de Deus.Desde que entraram em contato pessoal com os pobres, perceberam que a caridade é inseparável das exigências da justiça. Na medida a seu alcance, reivindicaram-na para os pobres. Mas, se nem sempre é possível obter justiça aqui na terra, quiseram fazer, ao menos, o que dependia deles próprios, simples estudantes: dar, pessoalmente, aquilo que o mais pobre pode dar, a partilha do seu tempo, de seus modestos recursos, de sua presença, de seu diálogo, e tudo o que pode ser feito para tentar ajudar eficazmente. Partindo daí, pareceu-lhes que para compreender os pobres é preciso primeiramente ser pobre com eles.Assim vivida, aquela que ia tornar-se a Sociedade de São Vicente de Paulo, não podia senão chamá-los ao aprofundamento de sua vida espiritual.Viver em tal contato pessoal com os que sofrem, viver unidos em comum e com tal espírito, é a própria essência, o caráter original da Sociedade de São Vicente de Paulo. Para a época e da parte de leigos, a iniciativa de Ozanam e seus amigos exprimia uma antecipação profética. Aspiravam nas próprias fontes da Palavra de Deus e da tradição cristã.


Enraizamento da Sociedade de São Vicente de Paulo na mensagem evangélica
Basta reler o Evangelho para encontrar a inspiração que animou a Sociedade de São Vicente de Paulo desde sua fundação. Em resumo: o Reino de Deus já está aí: os pobres, os pequenos aí estão e aí têm sido chamados os primeiros (Lc 6,20; Mt 5,3; Lc 18,15ss; 16,19-31). O Reino de Deus é o mandamento do amor, o coração da mensagem evangélica (Mt 22,34-40; Mc 12,28-33; Jo 13,34s). O testamento do Cristo é o amor fraterno vivido conjuntamente através do amor de Deus, e ele começa pelo serviço ao próximo (Jo 15,12-14). A caridade é universal e recíproca: os pobres servem os pobres, e também fazem esmola e seu testemunho é o mais alto (Mc 12, 41-44). O serviço aos pobres é o serviço ao próprio Cristo (Mt 25,34-36), esses pobres com os quais seremos sempre confrontados (Mt 26,11) e a quem nós serviremos com amor e justiça (Mt 23,23). Na vida de pobreza --- quer dizer, de partilha --- encontra-se a verdadeira fecundidade de nossa vida, de homens, assim como de cristãos (Lc 12,22-32).A história da cristandade ilustra a preocupação com a dignidade e com o serviço aos pobres: percebe-se, na obra universitária e literária de Ozanam, o lugar ocupado pelo testemunho de pobreza vivida com os pobres por São Francisco de Assis e o exemplo de incansável devotamento e de eficiência de São Vicente de Paulo, escolhido como patrono da Sociedade nascente.Os textos apostólicos desenvolvem essa mensagem: nós e os pobres, em primeiro lugar, somos filhos afetivos e herdeiros de Deus (Gal 4,7; Rom 8,15ss); esse estado introduz-nos na esperança (Rom 5,5) pela lei universal do amor (Gal 5,14; Rom 13,8; I Cor 13; I Jo 2,7-11 e 3,11-18) e esta atitude abre caminho ao diálogo e à reciprocidade da partilha entre irmãos, em caridade e em justiça, inseparavelmente (I Jo 3,10; Tg 5,1-4).

II – A VOCAÇÃO VICENTINA, CORAÇÃO DA UNIDADE DA SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO
A palavra vocação, empregada diversas vezes por Paulo VI, dirigindo-se à Sociedade de São Vicente de Paulo, exprime claramente a significação profunda da unidade, sentida de modo tão concreto por todos os seus membros.

Uma vocação, um apelo: o serviço direto aos pobres
Uma vocação, no sentido lato, é um chamamento da consciência esclarecida pela graça do Espírito Santo. Ter querido um dia experimentar vir a ser vicentino, é traduzir em atos uma conseqüência de nossa fé de cristãos: isto não é somente o chamamento absolutamente universal do Cristo ao espírito da caridade, é uma nota particular desse apelo: o desejo íntimo de participar pessoal e diretamente do serviço aos pobres por um contato de pessoa a pessoa, pelo dom pessoal de seu coração e de sua amizade e de fazê-lo numa comunidade fraternal de leigos animados pela mesma vocação.Existe uma infinidade de gradações e de modos para exprimir essa vocação: traduzi-la concretamente em atos, meditá-la, adaptá-la ao mundo diverso e em mudança, é a vida de cada vicentino, toda a vida da sociedade de São Vicente de Paulo.No início, ela exprimiu-se pela visita aos pobres em seu domicílio, considerada como o protótipo das atividades vicentinas. É preciso traduzir o seu sentido numa linguagem mais moderna: não se trata de contentar-se com “esmolas”, mas é necessário chegar ao diálogo pessoal com os desamparados, sem o menor traço de paternalismo, em atitude de confiança mútua, de respeito às pessoas, bem como ao lugar sagrado, que é o seu lar, de partilha da amizade e de reciprocidade dos serviços prestados e de todas as delicadezas do amor.Toda atividade caritativa, vivificada por tal atitude, pode ser considerada uma obra da Sociedade de São Vicente de Paulo.Esta vocação poderia ser vivida isoladamente, mas ela não é plenamente sentida e sustentada senão em certa comunidade: encontra-se aí a alegria de partilhar fraternalmente o mesmo ideal, o mais completo respeito à dignidade dos pobres, que são auxiliados anonimamente pelo grupo, do qual tanto o mais pobre como o mais pobre como o mais rico podem ser agentes.
Uma motivação, uma finalidade
A fonte da vocação vicentina é, ao mesmo tempo, humana e divina: é a angústia sentida ante o espetáculo da miséria de outro ser humano, a reação espontânea de simpatia: é até a indignação diante das injustiças sofridas por nosso próximo. É também a atitude do cristão impregnada pela palavra de Deus, vivendo da esperança do mistério pascal da Ressurreição, portadora dessa mensagem que contém toda a fraternidade humana pelos que suportam sua cruz, pela fé nesse mistério da presença do Cristo nos pobres.A finalidade é o socorro humano aos infelizes, no cuidado com a realização de seu destino de homens; é, também, pelas únicas vias interiores da graça e do testemunho, a salvação comum na participação do Reino de Deus.

III – O ENGAJAMENTO VICENTINO E A REGRA VICENTINA
Toda vocação conduz a um engajamento, isto é, a uma adesão absolutamente livre a certo gênero de vida, definido por certa regra, escrita ou não escrita. Para quem sentiu a vocação para o serviço pessoal aos pobres, com uma preocupação de vida em comum e também com a firme convicção de seu estado de leigo engajado nos negócios deste mundo, ingressar na Sociedade de São Vicente de Paulo é o compromisso que dá corpo a essa vocação. Uma vocação não seguida pelo engajamento é vocação sem efeito, vocação perdida.O engajamento vicentino não é, de modo algum, voto constrangedor, pois nada é mais livre. Mas é ato sério: aprende-se a reconhecer e a experimentar que o encontro com os pobres e com os vicentinos, que se dedicam a seu serviço, é enriquecedor.Em geral, quem atende à vocação vicentina e vive-a lealmente por esse engajamento numa Conferência de São Vicente de Paulo, mesmo que venha um dia a retirar-se, permanece modificado por aquilo que viveu, disponível aos mais desprovidos e preocupado em humanizar as relações ameaçadas de anonimato no seio do mundo atual.Todo compromisso supõe a adoção de uma regra. Aqui a Regra é o antigo Regulamento, mas rejuvenescido, simplificado. É a expressão densa e concisa do espírito que a anima. A Regra nada é sem esse espírito, e o próprio espírito tem necessidade da Regra para garantir a unidade.

IV – A SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO E SUAS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS

Uma associação profundamente fraternal
Desde seus primeiros encontros, os fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo sentiram tal conforto nessa experiência de vida comum, que se consideram verdadeiramente “irmãos” e instituíram o costume de se reencontrarem, com grande alegria, uma vez por semana. Em nossos dias, um mínimo de assiduidade e de regularidades das reuniões, continua essencial.A afeição mútua, a igualdade fraternal no seio da Conferência, como entre todas as Conferências do mundo, fazem da Sociedade de São Vicente de Paulo verdadeira “família” humana e espiritual, aberta a todos os que aspiram à sua vocação própria.

Uma família de leigos cristãos
É uma associação de leigos (sem que isto exclua os seminarista, religiosos, ou padres que queiram participar da vida vicentina). Vivem no mundo, assumem encargos e responsabilidades. Suas origens são de extrema diversidade: jovens ou idosos, sem a menor distinção de riqueza ou de limitações, não importa qual seja a condição social, étnica ou nacional. Basta que se entendam sobre a mesma finalidade e compartilhem suas experiências e sua preocupação comum de servir aos pobres.São homens ou mulheres, solteiros, casados, viúvos, ou mesmo casais iluminando seu lar pelo amor ao próximo.As características jurídicas deste estatuto de sociedade de leigos foram reconhecidas por diversos Papas, assim como pelos decretos e constituições conciliares do Vaticano II, acentuando que a Caridade é o pilar de todo o apostolado, colocando no mesmo ato o destaque sobre o lugar das obras caritativas na Igreja.A Sociedade de São Vicente de Paulo estabelece livremente suas regras, elege seus responsáveis com toda independência, administra o seu patrimônio de maneira autônoma.Mas trata-se de leigos cristãos: a estrutura da Sociedade está em harmonia com sua unidade na fé cristã; de batizados, filhos adotivos de Deus pela redenção realizada por Cristo, membros de seu Corpo Místico, que é a Igreja Católica, aí se encontra o sentido profundo de sua fraternidade, de seu amor aos pobres, de seu apego à hierarquia. Embora independentes dela, como membros de um grupo de leigos, testemunharam-lhe uma fidelidade ainda mais espontânea do que se lhe fossem ligados juridicamente.Nesse clima de liberdade, é de tradição prestar conta da atividade vicentina ao Papa, ao Bispo, ao Pároco e estar sempre prontos a associar a ação do Movimento à das organizações eclesiais que o desejem. Jamais a intimidade de tais relações foi desmentida e não se desmentirá, pois mais do que na “lei”, é no “espírito” que ela está inscrita. A Igreja tão bem o sentiu na cúpula, que jamais cessou de renovar sua confiança na Sociedade de São Vicente de Paulo.

Uma Sociedade de espírito jovem
Fundada por jovens e para jovens, cuja fraternidade se prolonga durante a vida inteira, o espírito de juventude é uma característica original e permanente da Sociedade de São Vicente de Paulo. Ela foi gravada desde o começo no Regulamento e aí permanecerá. Mas é também o ponto sobre o qual é mais necessário estar vigilante, pois a juventude do corpo se desvanece em cada um e é preciso renová-la constantemente no nível do coração e do pensamento.O espírito de juventude é o dinamismo, o entusiasmo, a projeção no futuro. É a aceitação generosa dos riscos, é a imaginação criadora, quer dizer, acima de tudo, a adaptabilidade, essa propriedade essencial da mocidade, bem mais importante que a adaptação que se torna esclerosada, quando não se sabe mais readaptar-se.Neste sentido, a Sociedade de São Vicente de Paulo pode ser chamada “movimento de caridade e de apostolado”. No entanto, a juventude de idade nem sempre basta para garantir a juventude de espírito, mas predispões a isso. Dar amplo lugar aos jovens, compreendê-los, dialogar com paciência recíproca, conferir-lhes encargos, ser jovens com eles, é tanto uma necessidade de recrutamento, como exigência de fidelidade à tradição vicentina de Ozanam.

Uma Sociedade universal
Sabe-se como a primeira “Conferência de Caridade” se dividiu em duas “Conferências de São Vicente de Paulo”, porque crescia desmesuradamente; depois proliferou no mundo inteiro, como um enxame e por geração espontânea. A tristeza da separação foi compensada por essa alegria e por este mistério: em qualquer lugar, onde o vicentino encontre uma Conferência, acha uma família, - a mesma família – não obstante a extrema diversidade das ocupações e das particularidades nacionais.Entre as centenas de milhares de confrades e consócias de mais de cem nações dos cinco continentes, realiza-se a mesma vocação, a mesma regra, o mesmo vínculo, simbolizado pelo Conselho Geral Internacional, do qual as Conferências do mundo inteiro recebem sua Agregação.Desde 2947, a possibilidade de realizar regularmente, em Paris ou em outra cidade, Assembléias Plenárias reunindo os responsáveis nacionais, tem reforçado essa unidade: a colegialidade é a regra, ao passo que o Presidente exprime as decisões do Conselho, como representante do colegiado.

Unidade na diversidade, adaptação às condições em mudança do mundo
A Universalidade implica, ao mesmo tempo, a unidade e a diversidade: as formas da pobreza evoluem com o mundo. Em todo lugar, a todo momento, é necessário imaginar uma sondagem da miséria e do alívio que lhe pode ser dado. A unidade fundamental da vocação vicentina está aberta a todas as disparidades de ações readaptadas constantemente para o mesmo fim. A Sociedade permanece una no pluralismo de ações.

Uma família católica aberta ao ecumenismo no seio da Igreja Católica
Esta unidade na universalidade estende-se naturalmente à abertura ecumênica da era pós- conciliar. É um sinal providencial que, desde a primeira metade do século XIX, apenas a palavra cristãos tenha sido inscrita na Regra, para definir a comunidade essencial dos vicentinos. No entanto, a Sociedade de São Vicente de Paulo ia desenvolver-se durante mais de um século com fisionomia estritamente católica.Por sua extensão e seu caráter universal, por sua franqueza e seu caráter leigo, por sua predisposição a cooperar com todas as espécies de ações caritativas dos cristãos e de todos os homens de boa vontade, pela própria natureza da “caridade, contra a qual não há lei”, por um apostolado de testemunho, e não de proselitismo, a Sociedade de São Vicente de Paulo está preparada para as experiências ecumênicas. Ela as considera, ao mesmo tempo, com prudência e com esperança. Reza pela unidade dos cristãos; tem sede dessa unidade; sente-se chamada a contribuir para isso.

V – CARIDADE, POBREZA E APOSTOLADO

Aspiração a uma vida mais evangélica
No seio desta Sociedade de São Vicente de Paulo, cujas características constitutivas foram aqui evocadas, seus membros aspiram, tanto quanto lhes permite sua fraqueza, a responder à sua vocação por uma vida caritativa e apostólica; isto quer dizer: testemunho de sua fé pelo amor pessoal aos que sofrem. À luz das fontes evangélicas, como dos ensinamentos do Vaticano II, e em presença deste mundo de hoje, do qual assumem o encargo como leigos engajados, os vicentinos redefinem sua missão e suas aspirações.

Pobreza da Sociedade de São Vicente de Paulo
A Sociedade é tradicionalmente pobre, isto é, não entesoura; dá, dia a dia, o que recebe de seus membros e benfeitores, pouco ou muito, segundo as circunstância. As despesas de funcionamento são reduzidas ao mínimo compatível com a eficácia; não se envolve com capitais mobiliários ou imobiliários de investimento, nem tem administração além da que é necessária para evitar a desordem.

Espírito de pobreza dos vicentinos
A palavra pobreza tem significado complexo e ambíguo: pode-se dizer que a pobreza é uma condição econômica, mas pode-se considerá-la também uma disposição interior. As traduções da Bíblia empregam a palavra nos dois significados, que se interpenetram. Trata-se sobretudo aqui de analisar brevemente a virtude da pobreza que a acompanha a da caridade.Não se pode entrar em diálogo com os pobres, senão sendo também pobre em alguma coisa. Sentir isto é uma das graças mais profundas que pode receber o “visitador dos pobres”. A cada um, segundo sua vocação própria, compete ser testemunha da primeira das beatitudes, vivendo o espírito de pobreza, inseparável de algum despojamento voluntário ou acidentalmente sentido ou aceito de maneira concreta e vivida.O espírito é, antes de mais nada, espírito de partilha: a vontade de não reter as riquezas sem bom uso. Salvo caso excepcional, o “voto de pobreza” ( no sentido dos religiosos) não é algo compatível com as responsabilidades de um leigo, mas é ainda maneira de pobreza, em sentir nossas riquezas, nossos talentos como dirigidos incondicionalmente ao serviço do bem comum e, antes de tudo, ao serviço de nosso próximo mais deserdado.O espírito de partilha exprime-se, pelo menos, na vontade de partilhar totalmente alguma coisa: um dá o seu tempo e pratica a virtude da disponibilidade; outro dá seu dinheiro; este dá seu saber; aquele usa sua saúde; aquele outro oferece o conforto que irradia de sua pessoa... Todo cristão, mesmo o mais indigente, pode, sem heroísmo excepcional, participar de tais partilhas, de tais trocas e, assim fazendo, aprende, pouco a pouco e livremente, a dar-se ele mesmo, no sentido que lhe é revelado pelas graças pessoais que recebe. A partilha é bem diversa de um donativo e completamente diferente da esmola; é feita de reciprocidade e de troca.
Modéstia e eficiência
Essa caridade vai além da esmola: implica constante disposição de humildade e de modéstia. O contato direto com os infelizes afasta primeiramente toda publicidade e demonstra até que ponto somos meros instrumentos inúteis, valorizados apenas pela graça de Deus. E, portanto, é preciso ir às raízes da miséria. Muitas vezes isso não se pode fazer sem meios poderosos. As grandes obras de beneficência ou de assistência social não são próprias dos vicentinos, que nunca as procuram, pois sabem eu são pessoalmente chamados ao discreto papel de “soldado raso” na luta contra a miséria. Se as circunstâncias os conduzem a tais obras, não as rejeitam, mas esforçam-se por conservar aí algo do contato humano para o qual foram formados pelo exercício da caridade vicentina.Quanto à publicidade, ela situa-se entre o dever de informação (não conservar a luz sob o alqueire”) e o dever de discrição.

Preocupação com a justiça social, disponibilidade em face do “desenvolvimento solidário da humanidade”.
Se é necessário ser modesto, é também preciso ser lúcido. O excesso de modéstia arrisca encobrir a extensão das responsabilidades de uma sociedade tornada providencialmente universal, através de tantos países do mundo: a constituição conciliar Gaudium et Spes, as incíclicas Mater et Magistra e Populorum Progressio são elementos fundamentais de lucidez para todas as vocações caritativas, mesmo e principalmente para as que desejam ser mais discretas.Também a Sociedade de São Vicente de Paulo, em seu conjunto, e seus membros individualmente, sentem-se mais claramente interessados pelas novas dimensões da solidariedade global dos homens. Os entraves à justiça social, as miséria da fome, os sofrimentos do subdesenvolvimento, interessam a todos os vicentinos, mesmo que pareçam estar afastados no espaço. Não lhes é possível esquivarem-se a eles: a imaginação criadora deve conduzi-los a dedicar as virtudes do diálogo direto e pessoal a todos esses problemas mundiais, que não estão reservados unicamente à política internacional.As dimensões do nosso próximo de hoje têm crescido; é preciso responder a isso. O Terceiro Mundo, por seus estudantes, seus trabalhadores, seus imigrantes; está presente no seio das cidades tecnicamente avançadas. O engajamento nas ações de cooperação pode ser considerado como uma expressão de vocação vicentina. Nas jovens comunidades cristãs dos países do Terceiro Mundo, o ideal vicentino já teve os mais pobres a socorrer eficazmente outros pobres, e a viver as dimensões do amor cristão. Tudo está por construir nesta etapa do mundo moderno.

Presença da Sociedade de São Vicente de Paulo no mundo
Reencontrar eficazmente os que sofrem misérias as mais diversas não é apenas tema de meditação; é também exigência de aprendizado, de conhecimento técnico dos problemas sociais, da psicologia dos que sofrem alguma frustração, experiência do contato direto com os infelizes. A Sociedade de São Vicente de Paulo tem por missão fazer desenvolver essa técnica e, como todas as organizações da Igreja, ela se faz presente e disponível, em cada um de seus membros, onde puder servir.Toda unidade social pode ser campo de recrutamento e de atividade de uma Conferência de São Vicente de Paulo: escola, universidade, usina, hospital ou sanatório, mesmo prisão etc., mas tradicionalmente a Conferência está presente, em primeiro lugar, na Paróquia, e também nas comunidades mais diversas. Os vicentinos sabem que não têm o monopólio da caridade, que são apenas modesta família cristã possuindo experiêmcia caritativa humilde e fecunda, e que por isso estão prontos a partilhá-la com todos e para todos. Seu serviço deve exprimir-se pela orientação pastoral: cooperar e servir, mas não desaparecer!Sua colaboração pode estender-se igualmente às grandes organizações, como as Cáritas nacionais e internacionais, que empregam meios poderosos, e àquelas às quais podem fornecer a sua experiência do contato individual.Esta presença e esta abertura devem manifestar-se enfim na família, na profissão, na vida cívica. Ela impregna toda a vida pessoal dos vicentinos.

Procura de vida evangélica, testemunho de espiritualidade e de apostolado
A vocação vicentina não abrange só o serviço aos pobres, mas também a entrada em comum no grupo: a Conferência de São Vicente de Paulo. É a partir daí que, o mais das vezes com a ajuda de um assistente eclesiástico, é explicada, meditada, aprofundada, toda essa parte da espiritualidade, que se refere às relações entre a pobreza, a justiça e a caridade, como a que viveu São Vicente de Paulo e que legou a seus filhos na religião. Diz-se de bom grado atualmente que há no serviço ao próximo e sobretudo aos mais pobres, uma espécie de “sacramento”, que é a aproximação ao Cristo sofredor, presente nos pobres. Aí se situa o centro da espiritualidade vicentina: ela experimenta, ao mesmo tempo, o que pode significar a presença do Cristo na Eucaristia, como sua presença nos pobres. Esta comporta em si o valor de salvação, quer dizer, de acesso ao Reino dos Céus (Mt 25,34-36). A espiritualidade vicentina sente como um escândalo o fato de ser-se indiferente à Segunda, quando se tem tanta piedade pela primeira!Cada um aproveita, segundo a graça que recebe e o acolhimento interior que lhe reserva. A esperança de todo vicentino, se corresponder à graça, é de chegar ao desejo expresso em uma das orações tradicionais do fim das reuniões... a fim de que, tendo dado aos pobres de todo coração o que possuem, terminem por dar-se a si mesmos”: linguagem antiga que exprime a mesma aspiração à vida das beatitudes, isto é, à vida segundo o Evangelho.Será um ideal excessivo e abusivamente constrangedor? Não! A Regra Vicentina não obriga em consciência, e isto pode tranqüilizar os mais escrupulosos. A experiência de mais de um século mostra que a aspiração a esse ideal de vida evangélica é expressa, o mais das vezes, por cristãos simples, desprovidos do menor sentimento de heroísmo: camponeses pobres de um país tropical, estudantes oprimidos por seus estudo, operários prostrados de fadiga, responsáveis esmagados por preocupações...É entre os “cristãos médios” que o sopro do Espírito Santo chama a maioria para a Sociedade de São Vicente de Paulo, e engaja-os, à sua medida, por vezes além dessa medida, para o serviço aos mais pobres. É um ideal de solidariedade no acesso ao Reino de Deus; é o que há de mais antigo e de mais novo como testemunho apostólico.


P ierre Chouard
Presidente Geral de 1954 a 1969

terça-feira, 6 de maio de 2008

SER VICENTINO...


Por que ser Vicentino?

Porque ser vicentino é viver o ensinamento de Cristo: “bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5,3). Pobres em espírito são aqueles que estão sempre prontos a abrir seu coração para Deus e prontos a ajudar os semelhantes e com eles partilhar um pouco daquilo que têm.


Como e por que servir os pobres?

Ao dirigir-se aos grupos dedicados a avaliar o sofrimento dos pobres, Frederico Ozanam disse: “Servi os pobres com respeito e delicadeza, sem humilhá-los. Jesus Cristo considera como feito a ele mesmo tudo que se faz a um pobre ou a um enfermo”.


É difícil ser vicentino de verdade?

Não. Ser vicentino é antes de tudo uma graça. É a resposta positiva ao chamado da consciência iluminada pelo Espírito de Amor. Torna-se visível a vocação vicentina naqueles que, apesar de suas tarefas caseiras e profissionais estafantes, encontram tempo para demonstrar sua solidariedade aos irmãos carentes. Para isso não precisa de dinheiro no bolso. É dar testemunho da fé.


Como surge a vocação vicentina?

Surge em função da angústia sentida ante o espetáculo da miséria de outro ser humano. É a reação espontânea de simpatia pelos que sofrem e desejo de assumir atitude de irmão solidário.

Que devo fazer para ser um vicentino?

O primeiro passo é descobrir o horário e onde se reúnem os grupos próximos a sua casa ou paróquia. Depois participar das reuniões de um dos grupos e acompanhar os encarregados de visitar os pobres e descobrir, desta forma, porque 250.000 cristões católicos do Brasil participam da Sociedade de São Vicente de Paulo e querem ter você também na SSVP.

O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MARCOS NA ÓTICA VOCACIONAL


por Cleber Teodósio

O Evangelho segundo São Marcos apresenta Jesus através de sua prática, o autor deixa claro que sua obra não é completa, convidando cada um de nós a continuar o evangelho com o nosso testemunho, a fim de que sejamos discípulos e missionários de Cristo.


A primeira vocação apresentada na obra é a de São João Batista – A voz que grita no deserto.



Em Marcos (1,9-10) vemos que Jesus busca através do batismo o Espírito Santo, nos ensinando que precisamos estar revestidos de Deus para perseverar a caminhada. Ainda no mesmo capítulo, versículos 16 a 20, mais vocações são despontadas. Jesus se aproxima dos pescadores Simão e seu irmão André, e logo depois de Tiago e João, filhos de Zebedeu, e os convida a ser pescadores de pessoas para o Reino.



O serviço, que é a resposta da vocação, exige liberdade (1,31), como também transcende os limites geográficos (1,38).



Levi é apresentado como profissional de arrecadação de impostos, ao encontrar-se com Cristo, descobre a sua vocação e segue o Mestre. Esse fato gerou sérias críticas entre o povo da época, porém Jesus esclareceu que veio para chamar os pecadores e não os justos (2,13-17). Como a Levi, Jesus se compadece dos vocacionados de hoje, acreditando no poder de transformação que existe em cada um de nós.



A vocação não é nossa, mas de Deus. Marcos (3,13) explica que Jesus chamou os que “desejava” escolher, seguindo até o versículo 19 vemos o nome dos dozes, do grupo de Jesus. Em Marcos 5,18 um homem pediu para seguir com Jesus; Este porém o deu uma outra missão; isto é uma prova que devemos nos colocar nas mãos de Deus com a interrogação: Senhor, o que queres que eu faça?



Os discípulos deixaram tudo para seguir o Mestre. O desprendimento e a observância à vontade de Deus, através de sua presença real em Jesus os tornaram apóstolos genuínos do Pai; vocacionados por excelência! Porém o maior vocacionado é o próprio Cristo, pois sua vida, paixão, morte e ressurreição foi toda uma entrega ao plano de Deus. Seu legado como anunciador da Boa Notícia foi/é extraordinário. Em Marcos (6,34) vemos que sua compaixão O faz Pastor das ovelhas desassistidas, ação que nos impulsiona a seguir fiel ao chamado de Deus, neste mundo marcado pela subjetividade religiosa e escassez de operários para a merce.
Compreendemos que o seguimento a Jesus existe sem a vocação, no entanto para se ter a vocação, necessariamente, precisa ter o seguimento, sendo impossível assim, fazer o caminho inverso.



A nossa vocação é o céu, como também era a vocação do homem rico (10,17), porém o apego às coisas materiais, a alienação e o tropeço em pequenas pedras, muitas vezes nos impedem de prosseguir; uma prova de que não compreendemos ainda, Cristo, como caminho verdade e vida. Seguir a Cristo é renunciar a si mesmo, abraçar Jesus e o projeto que Ele sugere para a nossa vida (8,34).



As promessas de Deus para seu fiel seguidor e anunciador da boa nova não são poucas (cf. Mc. 18,29-30). Aqui percebemos o verdadeiro apego e zelo que todo batizado é chamado a cultivar.
Jesus, o Senhor dos Senhores, se fez servo e nos convida a sermos grandes no serviço (10,43-44). O Mestre soube se colocar a serviço do Pai, Sua obediência foi total; Sua vontade era a vontade de Deus (14,36).O Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos, é um chamado. Sinto-me contemplado no convite. Em seu capítulo último, versículo 15, a fala de Jesus parece imperar; ali, mais uma vez, somos enviados a anunciar o evangelho e a continuar na missão; algo que só alguém aberto aos designos de Deus será capaz de realizar, ao que me proponho.