terça-feira, 5 de maio de 2020

Cinco Rostos de Maria


Pe. Robert Maloney, CM


         1. Cinco rostos de Maria

         Sabemos poucas coisas sobre a Santíssima Virgem, porém é certo que esse pouco que sabemos nos abre muitas perspectivas. Evidentemente, Maria desempenhou uma função primordial na história de Jesus e teve uma enorme influência na história do cristianismo. O Credo proclama que “Jesus foi concebido pelo poder do Espírito Santo e nasceu de Santa Maria Virgem”. Seguramente, depois de Jesus, Maria é o personagem bíblico com mais influência sociocultural em nossos dias. Maria exerceu uma grande influência na piedade cristã. É a primeira entre os santos a quem dirigimos nossas vozes em orações de louvores e de súplica. Há alguma oração que se reze com mais frequência que a Avé Maria?

         No plano afetivo, Maria simboliza a escuta maternal para um número incalculável de pessoas, para as que, segundo expressão de um escritor moderno, é “ícone da ternura de Deus”.(1) A nível de atitude moral, os cristãos, ao refletir sobre o Novo Testamento, veem em Maria, o discípulo ideal, a primeira entre todos os santos.

         Sua influência deixou uma marca profunda na arte, na música e na poesia. Basta que lembremos alguns quadros célebres da Virgem, como as “Madonas” de Botticelli, Filippo Lippi e Murillo. E, seguro que todos já escutaram alguma vez magníficas Avé Marias como as de Schubert e Gounod, assim como inumeráveis hinos marianos. Dante, Shakespeare e Peguy colaboraram com um belo tributo poético à Virgem Maria.

         Mas sem dúvida, em nenhuma parte, a imagem de Maria floresceu tanto, como na imaginação popular. Um autor atual fala dos mil rostos da Virgem Maria(2). Neste breve texto apresentaremos cinco desses rostos. Convidamos-lhes, não só a refletir sobre o que exporemos, mas também a meditar conosco sobre esses rostos. Pinturas, ícones, mosaicos e imagens criadas em nossas mentes e em nossos corações tem um modo de falar que vai mais além das palavras.



         1.1. Myriam de Nazareth

          Elegemos para representar a Myriam de Nazareth, a maravilhosa “Virgem com o Menino” de Murillo (1617-1682). Mas ainda que seja tão bonita e a gostemos muito, reconhecemos que esta Virgem é mais europeia que a histórica Myriam de Nazareth. Ainda que não sabemos como era realmente Myriam, o quadro de Murillo nos apresenta a união com seu filho, algo central nos textos bíblicos que a descrevem e a profunda serenidade que emana dele.

         Com esta primeira imagem, refletiremos na Maria da história da que conhecemos tão somente um pouco. Permitam-nos tentar expressar o pouco do que podemos dizer historicamente da Virgem Maria.

         Na realidade, Maria se chamava Myriam, como a irmã de Moisés. Provavelmente nasceu em Nazareth, pequena aldeia de uns 1.600 habitantes, dos quais quase todos eram judeus. Se não nasceu ali, ao menos ali viveu uma grande parte de sua vida. A seu Filho, lhe chamaram “O Nazareno”, como aponta a inscrição colocada no alto da Cruz. O nascimento de Maria aconteceu, provavelmente, entre os anos 20 e 15 antes de Cristo. Ela, José e Jesus viviam em território ocupado por uma potência estrangeira: os romanos, conquistadores muito odiados pelos judeus. Com frequência, a atmosfera era tensa.

         Seu esposo José, e seu Filho Jesus, eram carpinteiros (3). A língua que falavam com eles, em casa, era o arameu, ainda que, cremos, que compreendesse também, um pouco do hebreu, que ouviam ler nos ofícios da sinagoga local. Há a possibilidade de também haverem chegando a entender algumas expressões gregas, coisa que devia ser útil no ofício de carpinteiro, porque muitos comerciantes daquela época, e naquela região do Império Romano, fala-se o grego.

         Como as mães da época, e das demais, teve que amamentar a seu Filho, cozinhar regularmente, fazer trabalhos domésticos. Teve que ir buscar água no poço ou nos lagos próximos. E claro, Maria como a maioria das mães, ensinou a seu Filho a andar e a falar, a orar e a fazer muitas outras coisas.

         Naquela época não era comum que as mulheres da Palestina estudassem; por isso, é provável que Maria não soubesse ler nem escrever. Seus conhecimentos eram orais, adquiridos através das tradições familiares, das que se vivia em casa, e através da leitura das Escrituras, assim como dos sermões que ouvia na sinagoga.

         Maria, José e Jesus eram pobres, mas como José tinha um ofício, sem dúvida não eram os mais pobres dos moradores da Galileia de sua época.

         Parece que José morreu antes do começo do ministério público de Jesus. Maria, no entanto, viveu durante dito ministério (4). A separação de Jesus, quando este empreendeu sua missão, foi dolorosa para ela. Marcos nos diz que a família de Jesus o tinha por louco (5), e que Jesus se negou a uma petição de sua família que queria lhe ver (6). Maria esteve presente na crucificação. Na época tinha provavelmente uns cinquenta anos. Ela viveu pelo menos os primeiros anos da lgreja (7).

         O que nos diz este primeiro rosto? Diz-nos que Maria esteve enraizada na vida real. Que foi uma de nossa raça. Como a maioria das mulheres de sua época, era muito trabalhadora, tinha pouca instrução e era bastante pobre. Era uma judia profundamente crente, cuja fé se alimentava da Palavra de Deus que escutava na sinagoga. Amava e cuidava a seu Filho e a seu marido. Conservava a casa em ordem. Provavelmente ela ajudaria de vez em quando na carpintaria. Seguro que foi doloroso para Ela quando seu Filho deixou o domicílio e empreendeu um ministério extraordinário. Indubitavelmente, teve alegrias com seus êxitos e experimentou angustia e sofrimento quando lhe condenaram como a um criminoso e lhe mataram. Todos podemos nos reconhecer nessa forma de vida. Que não foi fácil. Muito menos tão gloriosa. No entanto, há nela uma nobre beleza (8). Maria foi tão real que as pessoas de todos os tempos têm a certeza de que ela compreende suas alegrias, suas necessidades e suas tristezas.



         1.2. A discípula que escuta

          Aqui elegemos um ícone de Moscou do século XV chamado “A Mãe do Deus da Ternura”. Neste tipo de ícone, do que há muitos exemplos, a Mãe escuta atenta e tristemente enquanto o Filho lhe revela sua paixão e morte. O ícone alude a um assunto importante do Novo Testamento.

         O mundo moderno tem grande curiosidade pela história, mas os escritores do Novo Testamento concedem uma maior importância ao sentido de seus escritos.

         Com frequência, as Escrituras narram alguns fatos históricos fundamentais com relação a uma pessoa, não o bastante como para satisfazer nossa curiosidade moderna, e depois se centram no sentido que tem a vida da dita pessoa para nós, os crentes. Nas Escrituras, Maria é “o discípulo ideal, o ouvinte modelo”. Ela escuta a Palavra de Deus e a põe em prática. Este assunto é mais explícito no evangelho de Lucas. Nos dois primeiros capítulos de Lucas, Maria é evangelizada por Gabriel, Isabel, os pastores, Simeão, Ana e pelo próprio Jesus. Todos eles proclamam a Boa Notícia da presença de Deus e cantam os louvores da Bondade Divina. Lucas nos diz que Maria guardava todas estas coisas em seu coração e as meditava sem cessar (9).

         A resposta de Maria ao Gabriel é significativa: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (10).

         Lucas resume todo em uma bela e breve história: (11)

A mãe e os irmãos de Jesus se aproximaram, mas não podiam chegar perto dele por causa da multidão. Então anunciaram a Jesus: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem te ver.” Jesus respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática.”

         O título, Maria como discípula que escuta, foi vista eclipsado, muitas vezes, por outros mais deslumbrantes atributos a Maria. Mas este é extraordinariamente importante. Na realidade, se encontra no centro da espiritualidade do Novo Testamento: todos os discípulos, como Maria, estão chamados a escutar atentamente a Palavra de Deus e a pôr em prática.

         O que podemos aprender deste segundo rosto de Maria? Podemos aprender a escutar. Além disso, pouco mais, Maria pode nos ensinar. Em sua raiz, ser discípulo significa ser “ouvinte da Palavra”. O conjunto da vida cristã pode resumir-se na frase de Lucas ao descrever Maria: “Ela escutava a Palavra de Deus e a colocava em prática”.



1.3. A Mãe de Deus

          Esta “Cena de Natal” de grande altura teológica, com sua motivação trinitária, procede de um artista da Escola de Bolônia, séc. XVII e XVIII. O quadro, cujo título: “Adoração do Menino com São Bernardo” reflete muitos assuntos das narrações da infância de Mateus e Lucas: a Providência de Deus, o Espírito, os Anjos, os sonhos de José a paz de Maria.

         A mariologia teve seus altos e baixos. O Evangelho de Marcos e alguns dos Padres da Igreja se interessam pouco por ela. Lucas e João, ao contrário, põem de relevo o papel que Maria desempenhou na história da salvação. Mas a mariologia teve um importante impulso quando, no ano 431 no Concílio de Éfeso, Maria foi proclamada “Mãe de Deus”. É este, certamente, o mais glorioso dos títulos de Maria.

         Porém, não é simplesmente um título Mariano, seu fim foi reafirmar a divindade de Jesus. Este título foi uma reação ao arianismo dos séculos IV e V que negavam a divindade de Cristo. A Igreja respondeu declarando claramente: Maria não é simplesmente quem deu a luz a um ser humano, profundamente espiritual, Jesus, senão que o Concílio de Éfeso afirmou: Maria deu a luz ao próprio Deus encarnado, o Cristo!

         Repetimos sem cessar este título na Ave Maria. Os ícones da Igreja do Oriente, onde este título nasceu e onde foi proclamado em Éfeso, representam Maria com o Menino Deus em seu seio ou junto a Ela, abençoando ao mundo e com frequência a vemos nos mosaicos, ao lado do Senhor ressuscitado e glorioso. Pela importância que tem este título, é fácil interpretá-lo mal. Tem uma longa história de controvérsias. Na idade ecumênica em que agora nos encontramos, é essencial lembrar que proclamar Maria como Mãe de Deus, é professar nossa fé na divindade de Jesus. Neste sentido, este título mariológico é profundamente cristológico.

         O que podemos aprender deste terceiro rosto de Maria? Podemos aprender que sua função foi singular. Maria foi, por assim dizer, a Arca da Aliança, a morada de Deus. Sua relação com a pessoa de Jesus é irrepetível: Ela foi sua Mãe; Ele é carne de sua carne. No entanto, os pobres sempre observaram, como Maria mesma canta no Evangelho de Lucas, que Deus a escolheu dentre eles (12). O Novo Testamento e a longa tradição da Igreja nos ensinam, que a relação única de Maria com Deus, em seu Filho, não procede só de sua relação física com Ele, senão de sua concepção prévia na fé. Escolhida entre os pobres, a união íntima de Maria com Deus procede de sua resposta: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra”. Para os pobres, Maria é sinal de esperança. Nela, os humildes se veem exaltados e estão seguros de que, com sua ajuda, suas dores podem transformar-se em alegria e até a morte pode mudar-se em vida com a do Senhor Ressuscitado. Em Maria reconhecem que o abandonar-se em Deus, permite que Deus nasça de novo neles e em seu mundo.



         1.4. Nossa Senhora da Medalha Milagrosa
          Esta estatua de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa do século XIX está no altar maior do santuário da rue du Bac em Paris.

         Talvez vocês possam perguntar por quê damos um salto de catorze séculos desde o Concílio de Éfeso em 431, às aparições da rue du Bac em 1830. Elegemos a rue du Bac por duas razões: primeiro, porque é representativa de outras aparições, já que compartilha muitos elementos comuns com elas; segundo, a Medalha Milagrosa tem milhões de devotos em todo o mundo; terceiro teve um lugar muito importante na herança de nossa Família Vicentina.

         Claro, devemos ser muito prudentes com relação às aparições. Destas temos relatos abundantes. Só na França, se dizem que entre 1803 e 1899 Maria apareceu em vinte e um lugares. Muitas destas aparições já foram esquecidas há tempos. Entre 1928 e 1971 se falou de 210 aparições em diferentes lugares do mundo. A experiência da Igreja nos ensinou a ser muito prudente em conceder atenção excessiva a tais acontecimentos. Mas algumas delas, como a devoção em relação com a rue du Bac, Lourdes e Fátima, (13) receberam certa aprovação e alento oficiais.

         Com relação a todas estas aparições, os crentes tem que recordar dos princípios fundamentais:

1.      Só as Sagradas Escrituras, interpretadas segundo a tradição da Igreja, são revelações públicas de Deus; as aparições não adicionam uma nova revelação necessária para nossa salvação. O centro da fé cristã reside sempre em escutar a Palavra de Deus, como a revelam as Sagradas Escrituras, e pô-la em prática, como fez a Santíssima Virgem.

2.      As aparições, as mensagens que levam e as preces que propõem, pertencem ao terreno da devoção privada. São um modo de concretizar e expressar nossa fé. Em sua condição de devoções privadas, quanto mais relacionadas estão aos mistérios centrais de nossa fé, quanto mais podem servir-nos de ajuda.

As aparições transmitem, popularmente, uma mensagem que concreta a fé ou a moral cristãs, cujas raízes se acham nas Escrituras. Repetem com força: "Convertam-se, buscai a paz, contemplai o amor Jesus que sofre, rezai fiel e insistentemente, imitai a Maria Mãe de Jesus." Naturalmente, todas essas mensagens já se encontram explicitamente nas Escrituras. Nesse sentido, as aparições não são necessárias para nossa salvação. Ninguém está obrigado a crê-las. Sua popularidade cresce e decresce. Mas se produzem repetidamente, porque a imaginação popular necessita ver-se cativada, e todos necessitamos recordações.

A visão de Santa Catarina Labouré, em 1830, ofereceu uma expressão popular e um impulso potente ao dogma da Imaculada Conceição, que Pio IX proclamou vinte anos mais tarde, em 1854. Certamente sem Catarina Labouré, os cristãos de todo o mundo nunca haveriam rezado tantas vezes: “Oh Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós!”. Rue du Bac segue atraindo fiéis (na realidade, a milhões anualmente), para meditar na Imaculada Conceição da Virgem Maria, em sua união a graça do Senhor e para pedir a Maria, a primeira entre todos os santos, que rogue por nós e por nossas necessidades.

Além disso, a medalha sempre atraiu de maneira especial aos pobres, aos humildes. Nos tempos de Santa Catarina foram cunhadas e distribuídas, até as regiões mais distantes do mundo, mais de mil milhões de medalhas. Foi o povo quem lhe deu o nome de “Medalha Milagrosa”. Nascida em uma época de racionalismo, a medalha proclamou a necessidade de símbolos para expressar a fé, o amor, o compromisso. Cunhada em um tempo que pretendia encontrar explicações científicas para tudo, a medalha proclamava o cuidado amoroso e providente de Deus por todo ser humano (14). De um modo especial, é um símbolo para os pobres, que evocam sua confiança no Deus que os escuta (15). As aparições como as de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa nos recordam que o cuidado amoroso de Deus necessitou, e continua necessitando, encontrar uma expressão humana no mundo, especialmente por meio dos místicos e dos santos.



1.5.   A Madona Negra e de todas as cores
         O famoso ícone, que chegou a Czestokowa em 1832, tem uma longa e importante história na piedade da Polônia.

         Alguns poderão se perguntar por quê, entre os mil rostos de Maria, escolhemos este para o final.

         A razão é muito simples. Hoje os documentos da Igreja falam sem cessar de enculturação. Este foi tema das assembleias generais de muitas comunidades missionárias. A fé cristã é muito maleável e a imaginação cristã muito criativa. Por isso, a devoção mariana se enculturou inumeráveis vezes em muitas culturas. Recentemente, no Seminário da CM, em Java, se ver uma pintura que representa a uma Virgem Maria de Indonésia. E há também Virgens chinesas, filipinas, africanas, etc. Todos vimos Nossa Senhora de Guadalupe e talvez outras muitas Virgens Latino-americanas.

         Em tudo isso há algo assombrosamente paradoxo. Em nível intelectual sabemos que Maria era uma mulher pobre judia. Não era negra, nem tinha aspectos chineses ou indígenas. Também sabemos que não usava as magníficas roupas europeias com que Murillo ou Filippo Lippi a representaram. Seus traços eram muito semelhantes aos das mulheres judias ou palestinas que vivem hoje nessas regiões. Seus vestidos eram os dos pobres. Tudo isso o sabemos. Mas a imaginação popular sempre quis fazer Maria mais e mais próxima de nós; e deu-lhe as características da comunidade crente. Ela é nossa Mãe, por isso o negro gosta de vê-la negra; o índio, índia; o europeu, europeia; o chinês, chinesa; o mexicano, mexicana. Octavio Paz, em uma ocasião, se expressou assim: “Nossa Senhora de Guadalupe é sinal no qual cada época e cada mexicano leu seu destino” (16). Os mexicanos a chamam “A moreninha”, um termo afetuoso à Virgem Morena, a quem tanto amam (17).

         Esta “Maria multicultural” se inspira especialmente nas palavras da Esposa do Cântico dos Cântaticos: “Sou morena, mas formosa" (18). Esse assunto floresceu na África do Norte e na Etiópia, assim como na Ásia Menor; também há Madonas negras na França, no Brasil e em outros muitos países. A mais famosa “Madona Negra”, é o célebre ícone de Jasna Gora, em Czestochowa, que se converteu em símbolo central da devoção popular da Polônia. Curiosamente, o rosto enegrecido da Virgem, neste ícone foi resultado da fumaça, e não da cor da pele em si, mais para os poloneses esta cor é o símbolo dos sofrimentos que Maria suportou de maneira heroica, esperando contra toda desesperança. A causa do atrativo universal que Maria suscita, converteu-se em uma potente força de enculturação (19) litúrgica e artística, ao adotar de maneira natural os vestidos e a cor da pele dos povos.

         O que poderíamos aprender deste quinto rosto da Virgem? Podemos aprender a ser criativos e sensíveis ante as diferencias cultuais. São Vicente de Paulo escreveu em uma ocasião “É nessas pobres pessoas que se conserva a verdadeira religião” (20). A forma de sua religião é muito menos cerebral que a dos teólogos. Claro, a religião popular tem o perigo dos abusos, mas também podemos fazê-la nossa teologia. Os pobres sentem espontaneamente o importante que é a enculturação. Reconhecem que o essencial não é que Maria tenha vivido no território de Israel moderno e que a cor de sua pele seja semelhante ao das pessoas do Oriente Médio atual. O essencial é que Ela foi uma de nós (e este “nós”, significa europeu, africano, americano, oceânico e asiático); que respondeu afirmativamente e com todo seu coração ao chamado de Deus; que Deus acolheu sua vida fazendo nascer-Se de sua carne, e que ela permaneceu firme na fé através das alegrias e das tristezas da vida. A Madona Negra (e de todas as cores) facilitam a muitos ver a história de Maria como aplicável a qualquer tempo, a qualquer lugar ou a qualquer cultura.

         Oferecemos esses cinco rostos de Maria como um modo de refletir sobre a riqueza e variada tradição que rodeia Maria, bem como, para que descubramos o valor da entrega, do sim diário, do dar e do dar-se. Concluímos recordando o que disse Jesus ao discípulo amado: “Eis aí a sua mãe” (21). Eis aí seu rosto, permitam-lhe que lhes fale.


Referências:
1. María Chiara Stucchi: -La Bellezza e la Tenerezza di María in Vita Consecrata-, Religiosi in Italia (# 300 mayo-junio 1997).
2. Cf. George Tavard: The Thousand Faces of the Virgin Mary - Los mil rostros de la Virgen (Collegeville, Minnesota) y Jaroslav Pelikan: Mary through the Centuries (New Haven, Connecticut).
3. Cf. Mc 6,3; Mt 13,55.
4. Mc 3,31; Jn 2,1-12.
5. Cf. Mc 3,21.
6. Cf. Mc 3,31-35.
7. Cf. Jn 19,25; Hech 1,14.
8. Con relación a hechos históricos referentes a María, ver: John P. Meier: A Marginal Jew (New York, 1991), y Raymond E. Brown, Kari P. Donfried, Joseph Fjtzmyer y John Reuman: Mary in the New Testament. (Philadelphia and New York Fortress Press and Paulist Press, 1978).
9. Cf. Lc 2,19; 2,51.
10. Lc 1,38.
11. Lc 8,19-21.
12. Cf. Lc 1,46-55.
13. Pelikan, op. Cit. Cita diez apariciones que han recibido alguna forma de aprobación eclesiastica. Cf. Págs. 178-179.
14. John Prager: María de los pobres, una relectura de la Medalla Milagrosa desde la perifería, CLAPVI XXIII, nº 96, julio-diciembre de 1997, 171-179.
15. Cf. René Laurentin: Vie de Catherine Labouré (DDB: París, 1980) y Catalina Labouré y la Medalla Milagrosa - 2 Proceso de Catalina (Dessain et Tolra: París, 1979).
16. Octavio Paz, citado por Jacques Lataye: Quetzalcoalt and Guadalupe. The formation of Mexican National Consciousness, 1531-1813 (Chicago: University of Chicago Press, 1976).
17. V. Elizondo: La Morenita, Evangelizadora de las Américas (St. Louis: Ligouri, 1981).
18. Ct 1,5.
19. Sally Cunneen: In Search of Mary (New York, Ballantine Books, 1996).
20. San Vicente: Repetición de oración del 24-7-1655 (Síg. XI/3, 120).
21. Jn 19,27.


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