Missionários nutridos pela seiva do Evangelho e do Carisma Vicentino
Nós ainda estamos no
chamado mês da Bíblia...
Nossa relação mais
estreita com a Palavra de Deus é bastante recente...
Num tempo em que não
se tinha permissão para um acesso mais livre à Bíblia São Vicente já exortava
os seus missionários a uma assiduidade à leitura de um capítulo do Novo
Testamento...
“Deus nos dá suas
graças segundo as necessidades que delas temos. Deus é uma fonte da qual cada
um tira água conforme suas necessidades. Uma pessoa que tem necessidade de seis
baldes de água, tira seis; o que precisa de três, tira três; um passarinho que
só tem necessidade de uma gota só tira uma gota; um peregrino, com a palma de
sua mão, pode saciar a sua sede. Dá-se o mesmo conosco em relação a Deus.
Devemos ter grande
devoção em nos tornar fiéis à leitura do capítulo do Novo Testamento e a fazer,
no começo, os seguintes atos: 1º adoração, adorando a Palavra de Deus e sua
verdade; 2º entrar nos sentimentos com que Nosso Senhor as pronunciou e acolher
no coração essas verdades; 3º tomar a resolução de praticar essas mesmas
verdades. Se leio, por exemplo: “Bem aventurados os pobres em espírito”, devo
tomar a resolução de me entregar a Deus para praticar essa verdade em tal
ocasião. Igualmente, quando leio: “Bem aventurados os mansos”, dar-me-ei a Deus
para praticar a mansidão. É preciso, sobretudo, acautelar-se para não ler como
estudo, dizendo: “Esta passagem me servirá para tal pregação”, mas somente para
o nosso progresso espiritual. Não devemos desanimar-nos se, tendo lido várias
vezes, um mês, dois meses, seis, não somos tocados. Acontecerá, em alguma vez,
que teremos uma pequenina luz, em um outro dia, uma maior, quando tivermos
necessidade. Uma única palavra é capaz de nos converter, apenas uma, como
aconteceu com Santo Antão”.
Pensando estas coisas, entrou na igreja. Aconteceu
que nesse momento se estava lendo o evangelho, e ouviu a passagem em que o
Senhor disse ao jovem rico:
|
"Se
queres ser perfeito, vende o que tens e dá-o aos pobres, |
|
Mt. 19, 21 |
Como se Deus lhe houvera proposto a lembrança dos
santos, e como se a leitura houvesse sido dirigida especialmente a ele, Antão
saiu imediatamente da igreja e deu a propriedade que tinha de seus
antepassados: trezentas "aruras", terra muito fértil e
formosa. Não quis que nem ele nem sua irmã tivessem algo que ver com ela.
Vendeu tudo o mais, os bens móveis que possuía, e entregou aos pobres a considerável
soma recebida, deixando só um pouco para sua irmã.
Pensando estas coisas, entrou na igreja. Aconteceu
que nesse momento se estava lendo o evangelho, e ouviu a passagem em que o
Senhor disse ao jovem rico:
|
"Se
queres ser perfeito, vende o que tens e dá-o aos pobres, |
|
Mt. 19, 21 |
“O estado dos
missionários é um estado conforme às máximas evangélicas, que consiste em tudo
deixar e abandonar, como os apóstolos, para seguir a Jesus Cristo e fazer, à
sua imitação, o que convém. Sendo assim, como me dizia uma pessoa em certa
ocasião, só o demônio encontrará o que censurar neste estado, pois haverá algo
mais cristão do que ir de aldeia em aldeia para ajudar o pobre povo a se
salvar, como vedes que se faz, com muitas fadigas e incômodos! Vede tais e tais
entre nossos coirmãos que trabalham no presente numa aldeia da diocese de
Evreux, onde precisam até mesmo viver na carência de tudo... Não se assemelha
isso ao que Nosso Senhor veio fazer? Não tinha senão uma pedra onde reclinar a
cabeça, ia e vinha de um lugar para outro, para conquistar as almas para Deus
e, enfim, morreu por elas...
A vocação do Filho não é para dentro, mas exodal,
ou seja, para fora. Ir ao encontro dos destinatários de sua vocação, segundo o
querer do Pai.
A vocação sendo exodal, aponta-nos que lá fora é
bem diferente, pois lá fora a vida e o ritmo são dinâmicos. Ora acolhedores,
ora revoltos. São nesses cenários oscilantes que o Filho de Deus é chamado a
viver sua missão.
Lá fora tanto é lugar de acolhimento como também
lugar de resistência e de fechamento. Lá fora tanto é lugar de pagãos, de
seculares, como também de irmãos da mesma fé.
Então a vocação é uma missão sob forte tensão. E
mais tensa ainda quando é vivida sob a fidelidade aos desígnios do Senhor.
Assim sendo, a vocação e missão não são só tensas tendo em vista os variados
cenários, como também o são por serem vividas sob fortes e grandes riscos.
O ir para onde o Pai quer é desafiante. Mas, o
encontrar-se com quem quer o Pai também é um desafio.
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