segunda-feira, 4 de julho de 2016

Crònicas da 1ª Semana da #AG2016CM

Crônica do 1º dia da Assembleia Geral

Hoje, começou a 42ª Assembleia Geral, no campus da Universidade DePaul, em Chicago, a primeira celebrada fora da Europa. A manhã começou com a celebração da Eucaristia, presidida pelo Padre Gregory Gay, superior geral, na igreja paroquial de São Vicente de Paulo, talvez a mais bela de toda Chicago. Nesta celebração, o superior geral fez um chamado para que a Congregação “saia” e continue comunicando a Boa Nova aos pobres. Posteriormente, a Assembleia teve continuidade no salão de reunião, com a chamada e a oração ao Espírito Santo. Felizmente, o Espírito veio em ajuda dos delegados para encontrar a forma de utilizar os meios eletrônicos de votação. 

Na continuação, Padre Gregory declarou aberta a Assembleia. Padre Ray Van Dorpe, Visitador da Província Oeste dos Estados Unidos, deu as boas vindas aos delegados a Chicago, em nome dos Coirmãos dos Estados Unidos, recordando como os Vicentinos italianos começaram sua trajetória neste lugar, há 200 anos. Em seguida, passou-se à eleição dos oficiais da Assembleia. Foram eleitos: Corpus Delgado (Zaragoza), secretário; Giuseppe Turatti (Cúria Geral), subsecretário. Como moderadores, em inglês, espanhol e francês respectivamente: Daniel Pilario (Filipinas), David Carmona Morales (Zaragoza) e Ziad Haddad (Oriente). 

Joaquim González, da Comissão Preparatória, apresentou o Diretório ou as normas para o desenvolvimento da Assembleia. Surgiram, então, algumas inquietações, que foram respondidas, assim como se fizeram alguns esclarecimentos referentes às traduções.  
A esta altura, foi eleita a Comissão de Síntese e Redação. Estes Coirmãos se empenharão em preparar o Documento Final da Assembleia: Lennoxie Lusabe (Kênia), Gabriel Naranjo (Colômbia) e Federico Pellefigue (França).

Para surpresa de muitos, a Assembleia se desenvolveu segundo o previsto e já começaram as reuniões por pequenos grupos linguísticos, em vista de propor os membros que integrarão a Comissão Central, que assistirá a coordenação da Assembleia. Da lista dos indicados, Marcelo Manimtim (Filipinas) foi eleito na primeira votação. Na segunda, foram eleitos Miles Heinen (USA), Christian Mauvais (França) e Tomaz Mavric (Vice-Província Santos Cirilo e Metódio). Antes de finalizar a jornada, na última votação, foi eleito Joaquim González (Madri).

Os acontecimentos deste primeiro dia ficarão guardados na história. Foi uma jornada sem contratempos, tendo em conta a diversificada procedência dos 111 delegados presentes. Assim, passadas uma tarde e uma manhã, surgirá o segundo dia.

Aos Coirmãos de nossa Província do Rio, asseguramos nossa proximidade espiritual e comunhão fraterna neste tempo privilegiado de Assembleia, confiando à oração de todos os trabalhos da AG, com os discernimentos e decisões que nos são atribuídos aqui. Continuaremos a enviar notícias. Obrigado!
Pe. Mól e Pe. Vinícius 


2º dia: 8 de junho – Carisma Vicentino e Nova Evangelização

Depois da leitura da ata do dia anterior, o presidente da Comissão Preparatória explicou a metodologia de trabalho, indicando que grande parte deste dia se desenvolveria nas mesas de debate.

As reflexões que ocuparam os grupos giraram em torno das respostas das Províncias ao questionário, particularmente no tocante ao carisma vicentino e à nova evangelização: identidade, comunidade e missão; nosso ministério de misericórdia na pregação da Palavra e no sacramento da Reconciliação; a evangelização dos pobres e as periferias; algumas urgências atuais para a Congregação; globalização e interculturalidade; missão partilhada e solidariedade; missões internacionais; as linhas de ação da AG 2010; e, por fim, nossos sonhos e esperanças. 

Tivemos ainda a conferência do Padre Celestino Fernández, da Província de Madri, que nos ofereceu algumas chaves vicentinas para a evangelização atual, situando-nos entre o que somos e o que fazemos como evangelizadores e servidores dos pobres. O marco geral da missão vicentina se apoia em três eixos: a experiência do bom Deus, protetor e libertador dos pobres; a centralidade de Jesus Cristo, evangelizador e servidor dos pobres; e a paixão pelos pobres. Em seguida, apresentou-nos três prioridades inegociáveis e irrenunciáveis, inspiradas no artigo 12 das Constituições: preferência clara e expressa pelo apostolado entre os pobres, atenção à realidade da sociedade humana e ser evangelizados pelos pobres. Enfatizou ainda a imperiosa necessidade de formar-nos como evangelizadores com espírito vicentino na direção das novas fronteiras. Por fim, discorreu sobre nove propostas vicentinas para a Nova Evangelização: a) a diaconia da caridade como um modo privilegiado de evangelizar; b) a organização da caridade como testemunho evangelizador; c) a sensibilidade como atitude prévia e fundamental; d) a encarnação como caminho indispensável para evangelizar; e) a visão da realidade a partir dos pobres e com o olhar de Deus; f) a potencialização da missão compartilhada; g) a mudança de estruturas como dimensão necessária à evangelização; h) a Doutrina Social da Igreja como sustentáculo vicentino; i) a conversão aos pobres como horizonte globalizador. E concluiu o Padre Celestino: “Evangelizar a partir do compromisso com os pobres, a partir do serviço caritativo, é a mais genuína das chaves vicentinas da evangelização, é o que de melhor podemos oferecer à Nova Evangelização”. 

Na oração que coroou a sessão, fomos convidados a revisitar a história de nossa vocação, agradecidos pela inciativa do Senhor, que nos escolheu para seguir Jesus Cristo, evangelizador dos pobres, no caminho de São Vicente. Despedimo-nos, à espera do que virá amanhã, com especial atenção à comunicação do Superior Geral e à visita de Ir. Kathleen Appler, Superiora Geral das Filhas da Caridade.


3º dia: 29 de junho – Gratidão e Internacionalização

O 3º dia da Assembleia Geral coincidiu com a Solenidade de São Pedro e São Paulo, contemplada desde cedo na Eucaristia que celebramos. 

Na sala magna, ouvimos atentos o relatório do Superior Geral, Padre Gregory Gay, discorrendo sobre seus seis últimos anos de serviço à frente da Congregação. Inserindo-nos na comemoração dos 400 anos do carisma vicentino, o Padre Geral convidou-nos a revitalizar nossa identidade, tomando consciência do que somos enquanto comunidade internacional de Missionários e vivendo em consequência dessa redescoberta, a fim de concretizar com maior fecundidade nossa vocação de seguidores de Cristo evangelizador dos pobres. Para isso, estimulou-nos a uma renovada atenção às Constituições, síntese atualizada do legado de São Vicente; pediu-nos crescer no espírito de oração e na assimilação das virtudes que caracterizam nosso espírito; provocou-nos a assumir o desafio da internacionalidade, mediante a solidariedade entre as Províncias e a colaboração com a Família Vicentina; interpelou-nos a ser mais generosos e criativos na missão, deixando nossas zonas de conforto e avançando na direção das periferias existenciais onde os pobres aguardam nossa presença e às quais a Igreja nos envia. Só assim, em permanente êxodo de si mesma, a Congregação poderá crescer em fidelidade criativa à sua vocação específica. Terminada a exposição do sucessor de São Vicente, a Assembleia, fazendo eco aos sentimentos de toda a Companhia, prorrompeu em um duradouro e vigoroso aplauso para dizer ao Padre Gregory o quanto lhe somos agradecidos por sua dedicação sem reservas à nossa Congregação e, por extensão, a toda a Família Vicentina.

Devido a uma queda de energia, transferimo-nos para outro auditório, a fim de acolher calorosamente Ir. Kathleen Apple, superiora geral da Companhia das Filhas da Caridade. Falando em nome de suas Irmãs e referindo-se constantemente às intuições de São Vicente e Santa Luísa, Ir. Kathleen dirigiu à Assembleia amáveis palavras de gratidão pelos diferentes serviços prestados pelos Coirmãos à Companhia. Incentivou-nos ainda a prosseguir no empenho de responder às exigências do carisma, às necessidades da Igreja e aos apelos dos pobres, em comunhão com as Filhas da Caridade e toda a Família Vicentina. 

Com ingentes esforços de adaptação, devido sobretudo à falta das cabines de tradução, alocadas unicamente na sala magna, ainda desprovida de energia, acompanhamos a apresentação das experiências de internacionalidade vividas pelas Províncias de Oceania, Porto Rico e Madagascar. Assumir o desafio da internacionalização e encarar as diferenças culturais como uma riqueza, falando a mesma linguagem do carisma vicentino, eis o desafio colocado diante de nós! O último trabalho de hoje consistiu no levantamento de novas perspectivas para evidenciar, a partir de nossas Províncias, o caráter internacional da Congregação e a dinâmica universal de nossa vocação, deixando de lado mentalidades e posturas que podem estreitar os horizontes da missão vicentina. 
Pe. Mól e Pe. Vinícius 


4º dia: 30 de junho – A solidariedade na Congregação

Lida a ata e feitas as primeiras comunicações, escutamos atentos o relatório do Ecônomo Geral. Discorrendo sobre as finanças da Cúria e o uso criterioso que ali se procura fazer dos recursos enviados pelas Províncias, Padre J. Geders nos exortou a uma administração sábia, transparente e eficaz dos bens, apoiados na convicção de que tudo o que possuímos deve estar orientado para a missão junto aos pobres, em razão do fim da Congregação. Enfatizou o desafio da solidariedade entre as Províncias, por meio da colaboração entre os Missionários e a partilha de recursos econômicos, com especial atenção para aquelas que não se auto-sustentam.

As conferências continentais de Províncias se reuniram para aprofundar o tema e aplicá-lo às suas distintas realidades. O debate em plenário resultou em sugestivos esclarecimentos a respeito da solidariedade na Congregação, considerando-a à luz de nossa vocação missionária, orientando-a decisivamente para a evangelização e o serviço dos pobres, enraizando-a em nosso sentido de pertença à Comunidade que nos transmitiu o carisma vicentino e que nos formou para a caridade e a missão. Fora deste horizonte espiritual e apostólico, qualquer estratégia ou linha de ação ficaria carecendo de fundamento e impulso. Pistas concretas também foram apontadas pelas conferências. 

Por tudo o que foi dito e compartilhado neste dia, o tema da solidariedade nos interpelou a uma sincera revisão de vida, que nos coloque em estado de conversão contínua e nos permita avaliar a qualidade evangélica de nosso voto de pobreza e de nosso compromisso missionário com os pobres, de tal modo que saibamos posicionar-nos profeticamente em um mundo dilacerado pelo individualismo e consumismo. Se árdua é a tarefa, estamos certos de que o Senhor não nos deixará sem a aragem e o vigor de seu Espírito.   
Pe. Mól e Pe. Vinícius 


5º dia: 1 de julho – Por uma missão compartilhada

A Santa Missa deste quinto dia foi celebrada em português. Ficamos contentes em celebrar a fé pascal em nossa própria língua, confiando ao Senhor o dia que estava para começar. 

As comunicações preliminares ocuparam grande parte da manhã, dando-nos o conforto e a segurança da comunhão espiritual de tantas pessoas e comunidades que nos acompanham com suas fervorosas preces. Padre J. Rybolt tomou a palavra para lançar a edição comemorativa da História Geral da CM, escrita em inglês e enriquecida por muitas imagens. O primeiro exemplar foi oferecido ao Superior Geral, em sinal de gratidão pelo apoio dado a este projeto concebido e iniciado nos dois generalatos anteriores. Cada Província recebeu também um exemplar.    

Em seguida, a palavra foi dada ao Padre Joe Agostino, que discorreu sobre a colaboração com a FV, enfatizando o amplo trabalho realizado nos campos da formação e da missão. No que se refere à formação, muito continua a ser feito pelo mundo a fora, sobretudo depois dos cursos oferecidos nos cinco continentes, graças ao empenho de um grupo de professores das Universidades da CM, coordenados pelo Secretariado para a FV, criado em 2015. No tocante à missão, foi apresentado o trabalho realizado no Haiti, em vista da promoção humana e social dos mais pobres, depois dos devastadores terremotos. Padre Aidan Rooney expôs sumariamente o esforço de manutenção e aprimoramento da página web famvin e de outros sites, hoje imprescindíveis ao alargamento da rede de comunicação entre os membros da FV, ao investimento na formação e à sensibilização para a caridade missionária. As Províncias foram conclamadas a alimentar esses veículos com conteúdos relevantes e a capacitar tradutores que ajudem na difusão da herança vicentina. Falou-nos ainda o Padre Giuseppe Turatti, na condição de coordenador da Comissão para a Promoção da Mudança de Estruturas, inteirando-nos a respeito dos passos dados pela Comissão na tarefa de esclarecer a proposta, suscitar iniciativas e encorajar projetos em andamento. 

À tarde, Padre Tomaz Mavric despertou-nos para a missão compartilhada entre os membros da Congregação de diferentes Províncias, dando a conhecer as iniciativas apostólicas assumidas em parceria pela Vice-Província São Cirilo e São Metódio e pelas Províncias de Eslovênia, Eslováquia e Polônia.  O enfoque recaiu sobre a evangelização e o serviço dos pobres em países sequelados por perseguições e conflitos perpetrados por regimes totalitários na Europa Oriental. Foram apresentadas também propostas concretas de celebração dos 400 anos do carisma vicentino. Pe. Claudio Santangelo convidou-nos a voltar o olhar para o norte da África, considerando o que essa região significou para nosso fundador e expondo o que ali tem sido feito por Coirmãos de diferentes Províncias, desafiados pelo diálogo inter-religioso e pelas exigências da inculturação. O Superior Geral trouxe à Assembleia uma proposta de formação inicial integrada entre as Províncias da África, cuja finalidade é unir forças para sedimentar o espírito missionário e alargar as fronteiras apostólicas desde a admissão dos jovens à CM. Com estas e outras iniciativas, o que se espera é oferecer a São Vicente o presente de uma vivência mais convicta, comprometida e audaciosa do carisma que ele nos legou há quatro séculos. 

Por fim, foi feita a primeira sondagem de preferências para a eleição do Superior Geral, a fim de tornar mais ágil o processo de escolha que terá início na próxima semana. 
A oração conclusiva nos fez entrar em sintonia com a Virgem Mãe do Senhor, cujo olhar de misericórdia sabemos sempre voltado para os pobres e para aqueles que os evangelizam e servem com amor.   
Pe. Mól e Pe. Vinícius 

6º dia: 2 de julho – Informação e discernimento 

Dia particularmente exaustivo foi o de hoje. Mas não menos necessário e esclarecedor, por tudo o que nos fez conhecer a respeito das estruturas internas da Congregação e de seus procedimentos. 

Escutamos ao todo cinco informes. O primeiro foi o do Secretário Geral, Padre Giuseppe Turatti, que nos forneceu dados estatísticos atualizados a respeito da CM. Somos atualmente 3.187 Missionários (3% a menos desde a última Assembleia), organizados em 41 Províncias, 5 Vice-Províncias e 8 Regiões. A maior parte dos vocacionados provém da Ásia e da África. Em algumas áreas, a diminuição de nosso contingente é considerável ou até mesmo vertiginosa. Grande é o número de Missionários ausentes e em situação irregular. Notável é também o número de falecimentos nos últimos anos. Padre Turatti concluiu sua intervenção indicando às Províncias como estabelecer contato com a Cúria, especialmente com o Superior Geral. 

O segundo informe foi o do Padre Shijo Kanjirathamkunnel, Procurador e Postulador Geral. Falou-nos primeiro em que consiste o ofício de Procurador da CM e das Filhas da Caridade junto à Santa Sé, particularmente no que concerne à solicitação de faculdades especiais, dispensas e outros assuntos.  Em seguida, referindo-se a seu trabalho de Postulador, apresentou o estado atual das Causas de Canonização, considerando cada um dos Servos de Deus e Beatos da FV. Aos Coirmãos de língua portuguesa, interessou sobretudo o que nos disse o Padre Shijo a respeito do processo de Dom Antônio Ferreira Viçoso. Concluída com êxito a fase diocesana e aprovada a Positio, aguarda-se agora o posicionamento oficial da Santa Sé sobre o suposto milagre, já em processo de análise.  

O terceiro informe versou sobre a comunicação na CM. Dirigiu-nos a palavra Padre Jorge Rodriguez, responsável pelo setor na Cúria. Foi apresentado um minucioso e bem articulado projeto, compreendendo cmglobal, Nuntia, Vincentiana e as circulares do Superior Geral. Os recursos a serem adotados são os mais diversos: artigos, notícias, imagens, vídeos, etc. Para tudo isso, pede-se a cooperação ativa e constante das Províncias. 

Padre Daniel Borlik, como diretor do Centro Internacional de Formação (CIF), informou-nos a respeito das realizações dessa importante instância de formação permanente da Congregação, cuja finalidade não é outra senão promover uma apropriação atualizada do carisma vicentino e o aprimoramento do sentido de pertença à CM, mediante o conhecimento mais esclarecido da vida, espiritualidade e obra do santo fundador. Os Visitadores foram encorajados a continuar enviando os membros de suas respectivas Províncias a este programa de formação. 

Por fim, Padre Corpus Delgado, coordenador do SIEV (Secretariado Internacional de Estudos Vicentinos), apresentou sumariamente o trabalho realizado pela nova equipe e seus projetos em andamento: elaboração de subsídios sobre os 400 anos do carisma, levantamento e disponibilização de recursos bibliográficos e criação de um curso de pós-graduação em estudos vicentinos. Aos Visitadores, foi solicitada a indicação de Missionários interessados e habilitados para a pesquisa neste campo.    

A última atividade do dia consistiu em acolher as proposições oferecidas pelo Superior Geral para o discernimento a respeito da escolha de seu sucessor, bem como do Vigário e dos Assistentes Gerais. Os delegados foram desafiados a rezar, refletir e decidir com base em critérios indispensáveis, a fim de escolher homens íntegros, enraizados na mística vicentina, sensíveis aos pobres, apaixonados pela missão, identificados com a Congregação, capazes de escutar, dispostos a interagir, abertos à internacionalidade, receptivos à colaboração com a FV, etc. As conferências continentais de Províncias se reuniram para refletir em conjunto sobre as indicações feitas e enriquecê-las com suas próprias perspectivas. 

Amanhã, dia 3 de julho, domingo, os membros da AG terão seu dia de retiro, orientado por Dom Varghese Thottamkara, CM. Desta experiência de encontro mais íntimo com o Senhor, esperamos colher a sabedoria que iluminará nossos discernimentos e a força que nos tornará resolutos em nossas decisões.   
Pe. Mól e Pe. Vinícius 


Retiro: a graça e o desafio do discernimento

Hoje, 3 de julho, tivemos uma proveitosa manhã de retiro, orientada por Dom Varghese Thottamkara, CM, que nos convidou a vivenciar intensamente a Assembleia Geral como ocasião privilegiada de discernimento da vontade de Deus para a Congregação. 

1. Depois do ofício de Laudes, escutamos atentos a primeira meditação sobre o tema do discernimento. Fieis à nossa tradição espiritual, começamos por contemplar o exemplo de Jesus Cristo, em sua busca constante de discernimento para realizar fielmente a vontade do Pai que o enviou. Olhamos também para São Vicente, em sua confiança na Providência e em seu esforço permanente de conformidade com a vontade de Deus. Fomos exortados a entender e exercitar a prática do discernimento como sondagem de nossas experiências interiores (pensamentos, emoções e desejos) para intuir em que direção nos orientam, ou seja, quais as decisões, escolhas e compromissos que inspiram, e de onde se originam, de ímpetos que nos humanizam e santificam ou de tendências que nos desintegram e afastam dos desígnios de Deus, cuja vontade é a plena realização de seus filhos e filhas no amor. O orientador ofereceu-nos ainda algumas condições indispensáveis para o discernimento, tais como: A) Buscar a vontade do Senhor no concreto da vida, na sucessão dos acontecimentos e na interação com as pessoas; B) Purificar a imagem que temos de Deus para reconhecê-lo na revelação de seu amor providente; C) Dedicar-se com afinco à oração e à contemplação; D) Conhecer e avaliar nossa interioridade, com as intenções, pensamentos e desejos que a povoam; E) Considerar a realidade que nos circunda e as forças que nela atuam; F) Libertar-nos das resistências que nos impedem de concretizar o que o Senhor nos inspira (orgulho, medo, ansiedade, ressentimentos, ideias distorcidas, etc); G) Praticar o amor fraterno na acolhida, no serviço e no perdão; H) Aprender a enfrentar com paz adversidades e riscos. A estas oito indicações gerais, Dom Varghese acrescentou outras duas, de caráter marcadamente vicentino: empregar nossas cinco virtudes características ao processo de discernimento espiritual e ter presentes os valores e exigências de nossa identidade específica de seguidores de Cristo evangelizador dos pobres no caminho de São Vicente. Trilhando esse percurso, não cederemos à tentação de viver na superficialidade e na dispersão, assumindo nossas responsabilidades de qualquer jeito, sem convicção, vigor e entusiasmo. Ao contrário, saberemos viver e agir com sentido de fé, com esperança dinâmica e amor incansável, buscando em tudo agradar a Deus no cumprimento da missão que ele nos confiou. 

Aos movimentos que despontam em nosso interior, precisamos associar as percepções que temos da realidade sócio-eclesial que nos envolve, os sinais dos tempos, contemplando-os com o olhar de Jesus, olhar que privilegia os pobres, que se compadece dos sofredores e se mostra indignado diante do pecado, do egoísmo e da injustiça. Só um olhar iluminado pela fé e voltado para a realidade pode, de fato, suscitar em nós o compromisso com o Reino de Deus, tornando-nos mais generosos, criativos e audazes nas respostas aos apelos dos pobres e às necessidades da Igreja. 

O discernimento a que somos chamados em uma AG é de natureza coletiva. Nele, com efeito, estão implicadas nossas disposições pessoais e comunitárias, com o intuito de descobrir o que o Senhor quer da Congregação neste momento preciso de sua história. Isso significa que precisamos assegurar alguns critérios básicos, como, por exemplo, consideração mútua, disposição de aprender uns dos outros, busca conjunta da verdade, renúncia a rotulações e juízos precipitados, transparência e simplicidade na exposição das ideias, escuta respeitosa de todos, disponibilidade de tempo para refletir e ponderar, construção gradual do consenso, confiança no Espírito que nos infunde sabedoria para o discernimento e fortaleza para sua aplicação prática. 

2. A segunda meditação se deteve sobre o discernimento requerido por nossa AG 2016. Neste ponto, o orientador lançou mão da experiência e do conhecimento obtidos ao longo de seus anos de pertença à CM e dos relevantes serviços que prestou no Conselho Geral e em sua Província de origem. Forneceu-nos, então, alguns âmbitos de discernimento contemporâneo para a Congregação, interpelando-nos a assumir os critérios de Jesus Cristo, a fim de que a AG corresponda às legítimas expectativas da Igreja, dos pobres e dos Coirmãos. “Deixem que a pessoa de Cristo pense, reflita e escute através de vocês para que possam produzir frutos que permaneçam”. Para isso, apresentou-nos algumas indicações, tais como: A) Perguntar qual a vontade de Deus para a Congregação nesta Assembleia, mantendo a atitude de oração, deixando que o Senhor nos guie, provoque e surpreenda, buscando em tudo a sua glória. B) Perguntar o que os pobres esperam de nós como seus missionários e servidores, quais suas necessidades mais prementes, seus anseios mais profundos, suas esperanças mais autênticas. C) Perguntar o que a Igreja deseja de nossa parte, dóceis às suas orientações e abertos ao diálogo com suas instâncias mediadoras (magistério, hierarquia, etc). C) Perguntar o que a Congregação necessita, penetrando no coração de São Vicente, escutando os Coirmãos, procurando novas maneiras de preservar e promover o carisma, cultivando e atualizando o espírito de nossas Constituições.

Nosso Coirmão bispo propôs algumas atitudes oportunas a uma participação frutuosa na AG: A) Ampliar nossa visão sobre a Igreja, os pobres e a Congregação, considerando a universalidade da missão, as distintas faces da pobreza e o caráter internacional da Companhia. B) Purificar as ideias e concepções que temos dos Coirmãos, a fim de acolhê-los na fé, estimulá-los na fidelidade e encorajá-los na missão. C) Repelir tudo o que se mostra contrário ao discernimento: pensamentos mesquinhos, palavras imprudentes, atitudes interesseiras, procedimentos unilaterais e influências nocivas. 

Por fim, incentivou-nos a escolher o novo Superior Geral e seu Conselho com base no levantamento dos desafios, necessidades e prioridades da CM para os próximos seis anos, resistindo ao espírito mundano da busca do interesse próprio (pessoal ou coletivo). O questionamento que nos cabe fazer é este: a partir das informações disponíveis, quais os Coirmãos mais indicados para animar-nos a enfrentar os desafios que a Congregação tem diante de si e evidenciar a vitalidade de nosso carisma missionário? Seria conveniente voltar aos critérios elencados na sessão de ontem à tarde. Importa que, entre o novo Superior Geral, o Vigário e os Assistentes, haja valorização da complementariedade que assegura a permuta de dons e o intercâmbio de habilidades. 

3. Concluímos o retiro com a Eucaristia celebrada na igreja paroquial de São Vicente de Paulo, neste dia em que o Evangelho nos convida a partir em missão com as características delineadas pelo Senhor ao enviar os setenta e dois discípulos, dispondo-nos a ir ao encontro das pessoas às quais ele mesmo gostaria de ir, os pobres, nossos irmãos.   
Pe. Mól e Pe. Vinícius 
Chicago, 3 de julho de 2016

Dom Varghese Thottamkara, CM
Pregador do Retiro


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