Ela se vestiu de beleza na sua
simplicidade e tomou como único tesouro Jesus Cristo.
Assim convidou a sua mãe, em uma de suas
correspondências:
“Espero
que nós continuemos a nos amar mais e mais, a cada dia que passar. Assim
construiremos o nosso pequenino mundo cheio de amor, paz e amizade.”
Não foi a morte violenta que a
tornou, neste dia 10 de dezembro de 2022, a Beata Isabel Cristina Mrad Campos,
mas a vida simples, humilde, caridosa, vicentina que viveu por apenas vinte anos! A palma do martírio foi
o resultado de uma vida íntegra, humana, ética, cristã! Seus valores não se
pautaram pelo ter e possuir “o mundo”, mas pela busca de ser pobre com os
pobres, razão pela qual, durante a sua vida estudantil, preferiu a companhia
das colegas mais pobres e era amiga de todas!
Nasceu
em uma família cristã. Filha de José Mendes Campos, grande vicentino de
Barbacena e de Dona Helena Murad Campos, também de Barbacena. Tiveram o
primeiro filho Paulo Roberto Mrad Campos, sendo a segunda uma menina, Isabel
Cristina Mrad Campos. Foi uma criança como as outras, alegre, cheia de sonhos,
brincava com ursinhos e bonecas...
Eu
já a conhecei, quando fui enviada em missão em 1974 para o Colégio Imaculada
Conceição de Barbacena. Era o início de sua 7ª série. Uma aluna no meio das
outras. Na 8ª série, tive a oportunidade de ser sua professora de Língua
Portuguesa. Aí começa a nossa caminhada. Bem comportada, prudente, falava mais
com o olhar e o sorriso do que com as palavras. O seu esforço nos estudos
ultrapassava a inteligência. Tarefas escolares sempre em dia.
O
tempo passou. Começamos, além da Escola a fazer viagens vicentinas, o pai
desenvolveu um excelente projeto de formação para jovens e vicentinos adultos
de toda a região de abrangência do Conselho Central de Barbacena. Eu viajava
com eles e fazia parte deste projeto. Ela e o Beto, seu irmão não perdiam uma
viagem. Era muito agradável a família vicentina, ali, em miniatura na busca de
formação humana, cristã e vicentina para todos os vicentinos e consócias.
Isabel era uma presença silenciosa, buscava não perder nada da formação
oferecida e ajudava na confecção de lembrancinhas para os encontros. Minha
missão consistia em ajudar os jovens a se encontrarem, a se encontrarem com os
outros jovens, com a família e com Deus. Como Diretora Espiritual no Conselho
Central, esta orientação se expandiu para os jovens e seus pais, razão pela
qual, acompanhei muito de perto a Beata Isabel Cristina. Era uma busca de viver
o que nos ensinou Jesus Cristo nos caminhos de São Vicente de Paulo.
Toda
formação seria em vão se não fosse fundamentada na família, na obediência aos
pais, mesmo quando não era o que ela desejava. Os dois filhos, Beto e Isabel
Cristina chamavam a atenção pelo cuidado para com os pais. No Colégio
participava, ativamente, dos Encontros de Turmas com o Frei Anselmo Fracasso.
Lia e até fazia cartõezinhos com os pensamentos do Padre Roque Schneider, SJ.
Gostava das músicas do Pe. Zezinho.
Sua devoção a Maria era uma
devoção bastante sólida. Trazia no dedo um anelzinho-terço. Nada transparecia
além do normal de uma adolescente e jovem de seu tempo, primava pela guarda dos
verdadeiros valores, era simpática, obediente, meiga e fraterna. Frequentava os
sacramentos com assiduidade. A Eucaristia fez parte de sua vida como alimento
para os dias bonitos como também para os nublados. Sabia recorrer a Jesus
Cristo e buscava respostas para suas dificuldades. Namorou com o Taquinho. Foi
um namoro observando o respeito a si mesma e ao outro.
Finalmente, a vida estudantil no
CIC se encerra em dezembro de 1980. Ao final do 3º ano normal, não podendo
comparecer à colocação de grau, uma vez que sua avó paterna falecera na manhã
do dia da Formatura, ela voltou ao Colégio para buscar a pasta com o histórico
Escolar e buscar o anel de formatura. Falou-me de seus planos, vestibular,
estudos, vida cristã, profissional... Ela amava a vida, a seus pais, mestres,
amigos, mas acima de tudo a Deus!
Fui transferida do Colégio
Imaculada Conceição ao final do ano de 1980. Ela partiu para Juiz de Fora, de
lá para o céu e, agora, depois de tantos anos, ei-la, no seu silêncio que grita
tão alto: “Bem-aventurada Isabel Cristina Mrad Campos”, a juventude precisa de
você para ser mais de Deus e dos pobres!
Concluindo:
1. A
minha aproximação com a Beata Isabel Cristina se deu nos caminhos de São
Vicente de Paulo, no desejo muito grande de ser uma serva dos pobres em missão
e a sua família ajudou-me a realizar este sonho: viver a minha vocação na
missão. Fui professora, orientadora Espiritual da SSVV-Cons. Central de
Barbacena, Animadora e Diretora Espiritual de Grupos de Jovens vicentinos, dos
quais Isabel sempre fez parte, bem como o seu irmão.
2. O
que senti ao ser convidada pela Equipe de Liturgia para ser uma leitora na Missão
de Beatificação? Eu me senti muito
agraciada porque dentre tantas pessoas que poderiam estar como leitora/leitor,
o Senhor me escolheu para proclamar a sua Palavra o que fiz com gratidão,
humildade e simplicidade. Pensei nas tantas vezes em que ela, a Beata Isabel
Cristina ouviu-me proclamar a Palavra nas reuniões, buscar a vontade de Deus,
através do discernimento que brotava da Palavra. Acredito que foi uma boa
oportunidade de levar a Companhia comigo. Ali, não era a Irmã Eponina que
estava diante de uma multidão a proclamar as belas Palavras de São Paulo, mas
todas as Filhas da Caridade que fazem parte da história de Isabel Cristina, a
Companhia inteira porque o que uma Filha da Caridade faz é a Companhia inteira
que está e faz com ela. Acredito muito na pertença. Meus sentimentos: paz,
alegria, simplicidade, fé, gratidão a Deus, à Província de BH e à Igreja
particular de Mariana.
3. O
que eu diria aos jovens?
Não tenham
medo de serem bons, de serem compromissados com os verdadeiros valores
evangélicos. Tenham em mente que a guarda do corpo, templo vivo do Espírito
Santo, é uma missão recebida de Deus no Batismo. Cultivem os bons desejos e
sonhos. Alimentem estes desejos pela Palavra de Deus, trabalhem para o Reino.
Cuidem dos irmãos e irmãs e, principalmente dos Pobres. Esta é a nossa herança
e serão eles que nos fornecerão a chave para a entrada no Reino. Quem não
conhece ainda São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac dê uma olhadinha
nestas vidas doadas. Vale a pena! A Beata Isabel Cristina bebeu da boa água da
fonte vicentina. Quem quiser seguir a Jesus Cristo para valer, comece por ser
um membro desta enorme Família Vicentina. Como dizia a B. Isabel Cristina: É
preciso começar no nosso pequenino mundo: na família. Levem Jesus para sua casa
e ela não ruirá! Ele é a única rocha firme que serve como nosso alicerce. Não
confiem naquilo que passa. São miragens, perdem-se com o tempo. O que fica
mesmo é a vivência do amor-caridade!
Ir.
Eponina da Conceição Pereira, fc
Comunidade
Virgem Poderosa – Curvelo -MG
Província
de Belo Horizonte
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