terça-feira, 23 de novembro de 2021

A Milagrosa Andarilha


Pe. Marlio Liévano, CM

A iconografia mariana tem tradicionalmente apresentado Maria como um ser idealizado, uma criatura excepcional e de certa forma, uma mulher distante dos problemas e das dores do nosso mundo ferido e sangrado: sim, uma mãe virgem sem as dores de todas as mães na concepção e no nascimento de seus filhos, a rainha adornada com uma coroa esplêndida e de vestidos ricos, a assunta entre anjos e colocada entre nuvens gloriosas, a toda sagrada... mesmo sendo esta, uma realidade inegável, chega a ocultar o dado humano daquela tão próxima à nossa carne, talvez pelo receio de subestimar a sua excepcional altura de Mãe de Deus humanada.

Maria Milagrosa oferece com sua visita à Família Vicentina e, por meio dela, a todo o mundo, facetas muito diferentes de sua proximidade e amor ternos


A Virgem começa a sua visita a nós, não da distância de um altar, nem de uma gruta, nem no azul-celeste de uma bela manhã, ela chega no decorrer da noite, quando suas filhas, as Filhas da Caridade, descansam do alvoroço do trabalho diário a serviço dos pobres a uns e a outros que no canteiro formativo aprenderam a ser servas dos pobres pela manhã. Anda descalça pelos corredores da Casa Mãe, e procura a sua escolhida para um diálogo rico e fecundo de mãe para filha. Para Maria não existe dia nem noite, existe um amor vigilante e uma preocupação constante com o presente e o futuro de seus filhos e filhas, desta forma ela busca o melhor momento para aquele encontro materno, sem que ninguém ou nada as interrompa.


Ninguém contemplou Maria tão de perto como Irmã Labouré: as mãos se entrelaçaram, Maria olhou nos olhos de Catarina e ela estava extasiada ao contemplar o olhar virginal e maternal da Mãe, deixando assim evidências no relato das aparições quando ela afirma: “...o momento que passei lá foi o mais doce da minha vida; seria impossível para mim explicar tudo o que senti”... Encontro sobre o qual a Santa nos deixou apenas algumas notas, mas suficientes e indispensáveis para os filhos de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac. A mensagem de coração a coração, foi bem assimilada em nossa família, porque foi a memória do seu amor constante que teve que ser renovada quando saímos das cinzas e voltamos ao amor das origens. É o amor da proximidade, um amor não esquecido, e a lembrança de sua caminhada tranquila conosco, entre as estradas empoeiradas dos pobres.


Mas depois que Maria terminou sua primeira visita à Rue du Bac, parte às pressas ao amanhecer, atrevo-me a pensar, que ela era esperada no céu para a grande festa daquele dia em que ela não poderia faltar: a festa do pai de os pobres (Na época, São Vicente de Paulo era celebrado 19 de julho), tanto para festejar, quanto para comunicar o que aconteceu na visita à casa de sua família, e mostrar-lhe que a obra que um dia havia deixado em 1660, saiu como a fênix das cinzas e continuava no mundo levando as Boas Novas aos pobres.


Já em casa, Maria não se esqueceu da visita materna, ou melhor da primeira visita, continuou com o desejo de retornar para cumprir a sua missão: pensava que a sua mensagem não se reduzia a um pequeno punhado de filhos. Estes, desde muito tempo atrás cruzaram mares e cruzaram montanhas, entre estradas íngremes e sem descanso, chegaram às cabanas de palha dos pobres, para semear Jesus em seus corações; agora eles precisavam de um livro aberto, que pudesse ser lido e compreendido por todos, desde os teólogos cultos aos humildes analfabetos do mundo. E este presente chegou no dia 27 de novembro de 1830 com a sua medalha, a MEDALHA MILAGROSA, como o expressou Irmã Labouré, demonstrou que é “nossa mãe e nos ama como filhos”.


Com este seu presente, a Medalha Milagrosa, que usamos ao pescoço, ou a imagem que veneramos em nossos veículos, ou decoramos com flores frescas e iluminamos nas grutas, ou nos altares à beira da estrada, elas diga-nos a cada momento que Maria está imersa em nossas lutas e angústias da vida cotidiana; que entra em nossas casas e enxuga as lágrimas das dificuldades de compreensão, trabalho e pão. Ela fortalece o frio de nossas misérias e lutas e encoraja nossa fé fraca, caridade ferida e esperança frágil.


Que Maria tenha um espaço em nossas casas, no escritório, para entrar nas salas de aula das nossas escolas e faculdades, na cozinha e nas ruas por onde caminhamos todos os dias para ir ao trabalho, ao mercado... Ela vai conosco, silenciosamente ilumina nosso caminho e nos encoraja nos tropeços e problemas da vida. Sim, a Medalha de Maria, a Medalha Milagrosa, a guardamos junto ao nosso coração sem nunca esquecer que, ela sempre tem as mãos abertas para nos receber em seu colo de mãe, e nos levar ao coração de seu Filho. Hoje e sempre diga-lhe com fé, a oração de nasceu da sua alma materna: Ó MARIA, CONCEBIDA SEM PECADO. ROGAI POR NÓS!

Fonte: Corazón de Paúl





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