sexta-feira, 11 de junho de 2021

INTRODUÇÃO GERAL A ENCÍCLICA FRATELLI TUTTI DO PAPA FRANCISCO



       Esta encíclica do Papa Francisco, como também vários outros documentos produzidos por ele, está intimamente associada ao seu grande projeto pastoral para a Igreja, escrito no início de seu pontificado: AEvangelli Gaudium”, ou se desejarem, “A Alegria do Evangelho”. Portanto, uma vez que nos apropriamos da Evangelli Gaudium, é perceptível que todos os documentos posteriores a ela, explicitem e desenvolvam vários temas que já foram nela mencionados, e que, no pensar do Papa, não podem ficar no esquecimento. Lembramos, por exemplo, dos seguintes documentos: “Laudato Si” (Louvado Seja), Sobre o Cuidado da Casa Comum (2015), Conf. EG 215-216; “Amoris Laetitia”, “Sobre o Amor na Família” (2016), Conf. EG n. 66; “Gaudete Et Exsultate”, “Sobre a Chamada à Santidade no Mundo Atual” (2018), conf. EG 119-120; “Fratelli Tutti” (Somos Todos Irmãos), Sobre a Fraternidade e a Amizade Social (2020), Conf. EG 186-216.

       Falando especificamente sobre a “Fratelli Tutti”, que é o nosso objeto de estudo e reflexão, observamos nas entrelinhas que o Papa, mais do que nunca, deixa claro nesta encíclica, que o nome que ele escolheu para o seu pontificado, Francisco, não é simplesmente um ato de devoção ou admiração pelo Santo italiano, é mais uma tentativa de encarnação dos sonhos, dos ideais e da coerência com Evangelho que, o Santo italiano, em seu tempo, procurou viver de maneira profética. Neste sentido, o Papa afirma: “São Francisco de Assis foi pai fecundo que suscitou o sonho de uma sociedade fraterna... Naquele mundo cheio de torres de vigia e muralhas defensivas, as cidades viviam guerras sangrentas entre famílias poderosas, ao mesmo tempo cresciam as áreas miseráveis das periferias excluídas. Lá Francisco recebeu, no seu íntimo, a verdadeira paz, libertou-se de todo desejo de domínio sobre os outros, fez-se um dos menos favorecidos e procurou viver em harmonia com todos” (FT, 4).

Portanto, à luz do testemunho de São Francisco de Assis, o Sumo Pontífice diz que foi o santo que o inspirou a escrever esta encíclica e que nunca ficou tranquilo com as graves questões sociais. Ele diz: “As questões relacionadas com a fraternidade e amizade social sempre estiveram entre minhas preocupações. A elas me referi repetidamente nos últimos anos e em vários lugares. Nesta encíclica, quis reunir muitas dessas intervenções, situando-as em um contexto mais amplo de reflexão” (FT, 5).

Olhando de forma global para encíclica, sem querer direcionar a leitura do documento, mas com o desejo de aguçar a leitura do expectador, destacamos aqui algumas ideias que brotaram da leitura, que nos introduz ou nos dá uma pequena ideia do que será tratado em cada capítulo, vejamos:

Capítulo l – As Sombras de Um Mundo Novo: Entre vários assuntos colocados, o Papa chama atenção a perda da consciência histórica, a polarização política, a imposição de um modelo cultural único e a cultura do descartável;

Capítulo ll – Um Estranho no Caminho: O Papa admira o quanto a humanidade desenvolveu e cresceu em vários aspectos, “mas somos analfabetos em acompanhar, cuidar e sustentar aos mais frágeis e fracos das nossas sociedades”.

Capítulo lll – Pensar e Criar um Mundo Aberto: Segundo o Papa, o ser humano só consegue seu desenvolvimento pleno numa entrega sincera ao semelhante. Grupos fechados, que crescem em torno de si, e se levantam contra a sociedade são formas de egoísmo idealizado.

Capítulo lV – Um Coração Aberto ao Mundo Inteiro: Uma reflexão, de modo especial, sobre o problema migratório. Aqui o Pontífice recorda que os esforços diante dos migrantes se resumem em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. Mas, o ideal é que, todos encontrem em seus países a possibilidade de viver e crescer com dignidade.

Capítulo V – A Melhor Política: Sem nenhum rodeio, o Papa afirma que tradicionalmente, a forma que se faz política não inclui, mas exclui os fracos e desrespeita a diversidade cultural. Falta muito para acontecer a verdadeira política a serviço do bem comum.

Capítulo Vl – Diálogo e Amizade: Aqui, entre as várias colocações, passa-se a ideia que, o diálogo necessita ser enriquecido e iluminado por razões, e não exclui a convicção de que é possível chegar a algumas verdades elementares que devem e deveriam ser sempre sustentadas.

Capítulo Vll – Caminhos de Reencontros: O Papa nos deixa a evidência que o processo de paz é um compromisso constante. Para este processo é indispensável a transparência e a preservação da memória histórica: “a verdade é uma companheira inseparável da justiça e da misericórdia”.

Capítulo Vlll – As Religiões a Serviço da Fraternidade: Valorizando o papel singular de cada religião, o Pontífice afirma que “as distintas religiões a partir da valorização de cada pessoa como filho de Deus, oferecem uma contribuição valiosa para a construção da fraternidade e para a defesa da justiça na sociedade.

De forma geral, são estas ideias que, a princípio, colocamos sobre a encíclica. Ela, sem dúvida, é um documento muito importante para a atualidade. Certamente, será contada no rol dos documentos da “Doutrina Social da Igreja”, nos quais os Papas se mostram atentos sobre as grandes demandas sociais da humanidade e procuram refletir, questionar e propor alternativas para o bem comum. O Papa Francisco, ao entregar esta encíclica a Igreja e a humanidade afirma: “Entrego esta encíclica social como humilde contribuição para reflexão, a fim de que, perante às várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras. Embora a tenha escrito a partir das minhas convicções cristãs, que me animam e nutrem, procurei fazê-lo de tal maneira que a reflexão se abre ao diálogo com todas as pessoas de boa vontade” (FT, 6).  

Acredito que, estas palavras foram apenas um aperitivo sobre o que virá, no contato mais crítico e sistemático com cada capítulo da encíclica. Ler, refletir, confrontar as ideias, tirar conclusões, formar opiniões, trazer o texto para realidade e ter uma boa iluminação são características fundamentais para todos nós que nos propomos ser amigos de uma teologia saudável.


Pe. Wander Ferreira, CM

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