A expressão latina “Urbi et Orbi” significa “à cidade [de Roma] e ao mundo”. Esse é o nome dado à bênção pronunciada pelo Papa na sacada central da Basílica São Pedro em três ocasiões. Todos os anos, o rito é celebrado no dia de Natal e no dia da Páscoa, as maiores festas cristãs. Além dessas datas, a bênção é concedida no dia da eleição de um novo Papa logo após o resultado do Conclave.
Nesta sexta-feira, dia 27 de março de 2020, o Papa Francisco deu uma Bênção “Urbi et Orbi” extraordinária, com a Praça de São Pedro vazia. Essa decisão foi tomada devido à atual pandemia de coronavírus (COVID-19) para permitir que as pessoas que acompanhem pelos meios de comunicação possam lucrar a indulgência plenária.
O Santo Padre dirigiu um momento de oração no átrio da Basílica de São Pedro, às 18h (horário de Roma, 14h no horário de Brasília). Depois de rezar com a Palavra de Deus e conduzir Adoração ao Santíssimo Sacramento, o Papa concedeu a Bênção “Urbi et Orbi” extraordinária.
Veja na integra a ORAÇÃO COM O SANTO PADRE - 27 de março de 2020
1. Escuta da Palavra de Deus
O Santo Padre:
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
R. Amém.
Oração
O Santo Padre:
Oremos. Ó Deus onipotente e misericordioso, olhai para a nossa dolorosa condição: confortai os vossos filhos e abri os nossos corações à esperança, para que sintamos em nosso meio a vossa presença de Pai. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. R. Amém.
Evangelho
O leitor:
Escutai a Palavra do Senhor do Evangelho segundo Marcos 4, 35-41
Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse aos discípulos: “Passemos à outra margem!” E despedindo a multidão, e levaram-no consigo no barco, assim como estava. Outros barcos o acompanhavam. Surgiu, então, uma tempestade bem forte, que lançava as ondas dentro do barco, que se enchia de água. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre o travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram-lhe: “Mestre, não te importa que pereçamos?” Ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: “Silêncio! Cala-te!” O vento parou, e fez-se grande calmaria. Então Jesus lhes disse:“ Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” E, tomados de grande temor, diziam uns para os outros: “Quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?”
Meditação do Santo Padre:
O Santo Padre:
«Ao entardecer…» (Mc 4, 35): assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos.
Rever-nos nesta narrativa, é fácil; difícil é entender o comportamento de Jesus. Enquanto os discípulos naturalmente se sentem alarmados e desesperados, Ele está na popa, na parte do barco que se afunda primeiro... E que faz? Não obstante a tempestade, dorme tranquilamente, confiado no Pai (é a única vez no Evangelho que vemos Jesus a dormir). Acordam-No; mas, depois de acalmar o vento e as águas, Ele volta-Se para os discípulos em tom de censura: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40).
Procuremos compreender. Em que consiste esta falta de fé dos discípulos, que se contrapõe à confiança de Jesus? Não é que deixaram de crer N’Ele, pois invocam-No; mas vejamos como O invocam: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» (4, 38) Não Te importas: pensam que Jesus Se tenha desinteressado deles, não cuide deles. Entre nós, nas nossas famílias, uma das coisas que mais dói é ouvirmos dizer: «Não te importas de mim». É uma frase que fere e desencadeia turbulência no coração. Terá abalado também Jesus, pois não há ninguém que se importe mais de nós do que Ele. De facto, uma vez invocado, salva os seus discípulos desalentados.
A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade. A tempestade põe a descoberto todos os propósitos de «empacotar» e esquecer o que alimentou a alma dos nossos povos; todas as tentativas de anestesiar com hábitos aparentemente «salvadores», incapazes de fazer apelo às nossas raízes e evocar a memória dos nossos idosos, privando-nos assim da imunidade necessária para enfrentar as adversidades.
Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos.
«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Nesta tarde, Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!»
«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Senhor, lanças-nos um apelo, um apelo à fé. Esta não é tanto acreditar que Tu existes, como sobretudo vir a Ti e fiar-se de Ti. Nesta Quaresma, ressoa o teu apelo urgente: «Convertei-vos…». «Convertei-Vos a Mim de todo o vosso coração» (Jl 2, 12). Chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros. E podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que, no medo, reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas. É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. Perante o sofrimento, onde se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos, descobrimos e experimentamos a oração sacerdotal de Jesus: «Que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos! A oração e o serviço silencioso: são as nossas armas vencedoras.
«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes, sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores, das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais.
O Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar. O Senhor desperta, para acordar e reanimar a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor. No meio deste isolamento que nos faz padecer a limitação de afetos e encontros e experimentar a falta de tantas coisas, ouçamos mais uma vez o anúncio que nos salva: Ele ressuscitou e vive ao nosso lado. Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (cf. Is 42, 3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança.
Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade. Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar. Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança. Aqui está a força da fé, que liberta do medo e dá esperança.
«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Queridos irmãos e irmãs, deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de vos confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: «Não tenhais medo!» (Mt 14, 27). E nós, juntamente com Pedro, «confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós» (cf. 1 Ped 5, 7).
Recolhimento diante da imagem da “Salus Populi Romani” (canto “Sub tuum praesidium”).
Recolhimento diante do Crucifixo de São Marcelo (antífona à Cruz).
2. Exposição, adoração e bênção eucarística
Exposição do Santíssimo Sacramento.
Adoração do Santíssimo Sacramento (canto “Adoro Te devote”).
Súplica litânica
Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, realmente presente neste Santo Sacramento
Nós vos adoramos, Senhor
Nosso Salvador, Deus-conosco, fiel e rico em misericórdia
Nós vos adoramos, Senhor
Rei e Senhor da criação e da história
Nós vos adoramos, Senhor
Vencedor do pecado e da morte
Nós vos adoramos, Senhor
Amigo do homem, ressuscitado e vivo à direita do Pai
Nós vos adoramos, Senhor
Filho unigênito do Pai, descido do Céu para a nossa salvação
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Médico celeste, que vos dobrai sobre a nossa miséria
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Cordeiro imolado, que vos ofereceis para resgatar-nos do mal
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Bom Pastor, que dais a vida pelo rebanho que amais
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Pão vivo e remédio de imortalidade, que nos dais a Vida eterna
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Do poder de Satanás e das seduções do mundo
Livrai-nos, ó Senhor
Do orgulho e da presunção de poder viver sem Vós
Livrai-nos, ó Senhor
Dos enganos do medo e da angústia
Livrai-nos, ó Senhor
Da incredulidade e do desespero
Livrai-nos, ó Senhor
Da dureza de coração e d incapacidade de amar
Livrai-nos, ó Senhor
De todos os males que afligem a humanidade
Salvai-nos, ó Senhor
Da fome, da pobreza e do egoísmo
Salvai-nos, ó Senhor
Das doenças, das epidemias e do medo do irmão
Salvai-nos, ó Senhor
Da loucura devastadora, dos interesses implacáveis e da violência
Salvai-nos, ó Senhor
Das insídias, da má informação e da manipulação das consciências
Salvai-nos, ó Senhor
Olhai para a vossa Igreja, que atravessa o deserto
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para a humanidade, aterrorizada pelo medo e pela angústia
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para os doentes e os moribundos, oprimidos pela solidão
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para os médicos e os trabalhadores da saúde, exaustos de cansaço
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para os políticos e os governantes, que carregam o peso das decisões
Consolai-nos, ó Senhor
Na hora da prova e da perturbação
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Na tentação e na fragilidade
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
No combate contra o mal e o pecado
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Na busca do verdadeiro bem e da verdadeira alegria
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Na decisão de permanecer em Vós e na vossa amizade
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Se o pecado nos oprime
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se o ódio nos fecha o coração
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se a dor nos visita
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se a indiferença nos angustia
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se a morte nos aniquila
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Oração
O Santo Padre:
Oremos. Senhor Jesus Cristo, neste admirável sacramento, nos deixastes o memorial da vossa paixão. Dai-nos venerar com tão grande amor o mistério do vosso Corpo e do vosso Sangue, que possamos colher continuamente os frutos da vossa redenção. Vós, que viveis e reinais com o Pai, na unidade do Espírito Santo. R/. Amém.
O Cardeal Ângelo Comastri anuncia a Bênção “urbi et orbi”, com anexada indulgência plenária: O Santo Padre Francisco a todos que recebem a bênção eucarística, também por meio da rádio, da televisão e das outras tecnologias de comunicação, concede a indulgência plenária na forma estabelecida pela Igreja.
O Santo Padre dá a bênção com o Santíssimo Sacramento.
Aclamações
Bendito seja Deus.
Bendito seja seu santo Nome.
Bendito seja Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Bendito seja o Nome de Jesus.
Bendito seja o seu sacratíssimo Coração.
Bendito seja seu preciosíssimo Sangue.
Bendito seja Jesus no santíssimo Sacramento do altar.
Bendito seja o Espírito Santo Paráclito
Bendita seja a grande Mãe de Deus, Maria santíssima.
Bendita seja a sua Santa e Imaculada Conceição.
Bendita seja sua gloriosa Assunção.Bendito seja o nome de Maria, Virgem e Mãe.
Bendito seja são José, seu castíssimo esposo.
Bendito seja Deus nos seus Anjos e nos seus Santos.
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