terça-feira, 31 de março de 2020

A VIA SACRA - CARIDADE E PAIXÃO



(Escrito pela Ir. Therese Mac Kinnon, F.C.)

Esta meditação da via sacra associa a paixão de Jesus como está retratado nas Estações da Cruz e a mensagem de Jesus no Evangelho de São Mateus sobre o juízo final. "Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isto a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes." Mat. 25,40. O significado desta passagem das escrituras é resumida nas obras de misericórdia espirituais e corporais. Esta via Sacra correlaciona uma obra de misericórdia com cada Estação da Cruz. Em cada estação está incluída uma citação de Santa Luísa de Marillac. Estas meditações sobre a caridade e paixão de Jesus são mistérios que estiveram patentes no seu coração

Citação: Aplicamo-nos, a nós mesmos, os méritos dos sofrimentos de Jesus Cristo. E que faz Deus no céu? Conclui, eternamente a morte e padecimentos de seu filho, tornando bem-aventuradas as almas, redimidas por esses sofrimentos. (E 57, p. 887)

PRIMEIRA ESTAÇÃO

Jesus é condenado à morte

VISITAR OS PRESOS

“Estava na prisão e tu visitaste-me.” Mt. 25,36

Reflexão: Jesus estava na prisão. Quantas pessoas inocentes são condenadas injustamente ou maltratadas em nome da justiça ou oportunismo? Conheço pessoas que estão presas por, ódio ou indiferença? Citação: Fome de justiça , que por ser mais premente nos deve fazer desejar algo de mais nobre, ser a união com Deus e as disposições e meios para alcança-la, um veemente desejo de que reine em nós o efeito da Santa vontade e de procurar, tanto quanto dependa de nós e que reine também nos outros. (E. 35, p. 841)
Oração: Jesus, abri nossas mentes, nossos corações e o nosso desejo de levar o dom da liberdade a todos que encontrarmos. Com os prisioneiros e todos que buscam os direitos humanos nós pedimos que o reino de Deus venha.


SEGUNDA ESTAÇÃO

Jesus Carrega sua Cruz

SUPORTAR PACIENTEMENTE AS PESSOAS MOLESTAS

“...Amai vossos inimigos, e fazei bem aos que vos odeiam desejai bem aos que vos amaldiçoam.” Lc. 6,27-28

Reflexão: Jesus, que era totalmente inocente, foi condenado à morte. Quantas vezes somos julgados, ofendidos? Será que dou-me tempo para compreender a perspectiva dos outros?
Citação: Pareceu-me que para sermos fiéis a Deus, deveríamos vive rem grande união umas com as outras…que nos impedirá indignar-nos contra as ações das outras e nos comunicará um suporte e paciência cordial para com nosso próximo. (E. 53, p. 879)
Oração: Jesus concedei-nos o dom do entendimento e a aceitação para que possamos sempre atuar na verdadeira humildade. Com todos os que erram injustamente pedimos paciência, gentileza e a coragem de abençoar os nossos ofensores. AMÉM.

TERCEIRA ESTAÇÃO

Jesus cai pela primeira vez

DAR DE COMER OS FAMINTOS

“Estava com fome e deste-me de comer.” Mt. 25,35

Reflexão: Jesus estava com fome. Quantas pessoas hoje estão esfomeados! Quantas pessoas têm fome de alimento para a alma! Quando dou comida para alimentar o corpo de uma pessoa, poderia também dar comida para alimentar a sua alma?
Citação: ...Somos chamadas a honrar a Santa Cruz através de todo tipo de sofrimentos, depois do exemplo de Nosso Senhor que nos ensina através da sua morte de cruz como as demais penas e dores que padeceu durante a sua vida humana, como ele mesmo no-lo ensina, em diversas passagens dos santos Evangelhos. (E. 57, p. 887)
Oração: Jesus, que alimentaste cinco mil pessoas, concedei-nos a graça de reconhecer que somos chamadas a dar o alimento espiritual e corporal. Ajudai-nos a olhar com compaixão as necessidades materiais e espirituais de todos os que servimos. AMÉM.


QUARTA ESTAÇÃO

Jesus encontra sua mãe

CONSOLAR OS AFLITOS

“Vinde a mim todos os que estais cansados de carregar o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso.” Mt. 11,28

Reflexão: Jesus encontra sua mãe. Os seus olhares exprimem o amor incondicional que sara todas as feridas. Quantas pessoas desejam experimentar este amor. Jesus e sua mãe dão esse amor a todos. O meu amor é incondicional?
Citação: .... Não mais vontade própria, somente a tua reine em mim. Concede-me esta graça, ó Jesus! pelo amor que me tens e pela intercessão de tua Santíssima Mãe que tão perfeitamente amou todos os efeitos de tão amável vontade. Peço-te esta graça, de todo o meu coração. (E.21, p. 806)
Oração: Jesus, partilhaste um amor incondicional com sua mãe. Concedei- nos o dom de amor para consolarmos os aflitos e dar conforto aos que choram. AMÉM.

QUINTA ESTAÇÃO

O Cireneu ajuda Jesus a carregar a sua cruz

ACONSELHAR OS DUVIDOSOS

“Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz…não fiqueis perturbados, nem tenhais medo.” Jo 14,27

Reflexão: Jesus aceita a ajuda. Quantas vezes outros necessitam de ajuda! Quantas vezes nós necessitamos ajuda! Consigo transmitir a paz àqueles que vem me pedir conselhos.
Citação: Nosso Senhor quis dar-nos a conhecer sua dignidade dizendo que São Paulo, por seu nome, com ele seria honrado e esta crença deve estabelecer-se com toda verdade, em nossos corações, pois, que fazemos neste mundo quando sofremos? Aplicamo-nos, a nós mesmos, os méritos dos sofrimentos de Jesus Cristo (E. 57, p. 887)
Oração: Jesus, que veio para trazer a paz. Dá-nos o dom da gentileza para ajudar aqueles que estão confusos e feridos. AMÉM.


SEXTA ESTAÇÃO

Verônica enxuga as lágrimas

ENSINAR OS IGNORANTES

“A finalidade desta ordem é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sem hipocrisia …” I Tim. 1,5

Reflexão: Jesus recebe assistência. Um toque gentil, um ato de compaixão, estes expressam o amor em ação. Quantas vezes recebí um toque terno de alguém?
Citação: Sendo esta prática tão ponderosa que nos comunica o conhecimento de Deus, não tal qual, mas penetrante nele mesmo e em suas grandezas de tal modo que, quem tiver mais caridade, mais participará dessa luz divina que a inflamará eternamente no Santo Amor. (E19, p. 804)
Oração: Jesus, sois a encarnação do amor. Ajudai-nos a amar com ternura e compaixão. Como nosso amor pelos outros aumenta, assim será o nosso amor por vós. AMÉM.

SÉTIMA ESTAÇÃO

Jesus cai pela segunda vez

DAR DE BEBER A QUEM TEM SEDE

“...Estava sedento e deste-me de beber...” Mt. 5,35

Reflexão: Jesus que cai pela segunda, estava fraco e com dor. Quantas pessoas sofrem e sedentas de uma água pura para beber? Estou ajudando a preservar um ambiente limpo?
Citação: Depois de haver constatado que tudo estava cumprido, Jesus na cruz, teve sede. Seu corpo dilacerado pede, como o cervo o alívio da água. Sua sede era dupla: a saber, do corpo e do espirito: querendo ir além do necessário e querendo utilizar todos os instantes de sua vida. Escuta, ó minha alma, como ditas unicamente a ti: Tenho sede de teu fiel amor. (E. 33, p. 838)
Oração: Jesus, abrí nossos corações para descobrirmos as necessidades da gente próxima de nós e as necessidades daqueles que estão em lugares afastados. Guiai nossas ações para transmitirmos a igualdade na terra para que ninguém fique sedento. AMÉM.


OITAVA ESTAÇÃO

Jesus encontra as santas mulheres

ADMOESTAR OS PECADORES

“...Corrigi os que não fazem nada, encorajai os tímidos, sustentai os fracos e sede pacientes com todos” I Tes. 5,14

Reflexão: Jesus, mesmo na agonia, tocaste os corações dos que vieram a si. Como posso chegar a ajudar aqueles que encontro com criatividade? Citação: Experimentei consolação no meio da grande dor sem perder que fora por amor de Deus, o desejo de fazer bom uso da minha limitação e lembrei-me do sofrimento de alguma outra pessoa, e assim, unindo a minha intenção à sua ofereci ambos os sofrimentos a Deus com o pensamento de achar-me na cruz com Nosso Senhor. (E. 27, p. 819)
Oração: Jesus, ajudai-nos a assistir a todos que se cruzam conosco precisando de encorajamento na vida e com exigências de vida. Orientai- nos a vermos os dois lados do problema a fim de que o vosso amor venha sobre nós. AMÉM.

NONA ESTAÇÃO

Jesus cai pela Terceira vez

PERDOAR AS INJÚRIAS

“Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” Mt. 6,12

Reflexão: Jesus, a sua caída pela Terceira vez, lembra-nos que a vida não é fácil. Que tamanha Paz haveria no mundo se as pessoas se perdoassem umas às outras! Continuo perdoando uma e outra vez mais?
Citação: A morte perdeu seu aguilhão: não foi capaz de separar a divindade do corpo de Jesus Cristo, nem a própria graça do corpo bem- aventurado. As zombarias são próprias dos que não creem e pedem milagres a fim de fazer o bem. Jesus ao perdoar, demonstra não haver nele nenhum ressentimento, nem desejo de vingança pelos desprezos pede perdão, quando desculpa. (E.33, p. 839)
Oração: Jesus, ajudai-nos a perdoar as injúrias, não somente uma vez, mas a cada momento. Dai-nos humildade de aceitar nossas faltas para vermos claramente as faltas dos outros. AMÉM.


DÉCIMA ESTAÇÃO

Jesus é despojado

VESTIR OS NÚS

“Estava sem roupa e vestistes-me ...” Mt. 25,36

Reflexão: Jesus, deste tudo, ajudai-me a partilhar tudo o que tenho. Quantas pessoas precisam satisfazer as necessidades básicas da vida? Estão os meus olhos abertos para reconhecer essas necessidades?
Citação: O pedido do mau ladrão fez-me pensar que não conhecemos o valor dos sofrimentos; enquanto a conduta do bom ladrão ensina-nos o mérito que se encontra honrando a justiça, confessando a verdade e a oração. (E. 33, p. 838)
Oração: Jesus, dai-nos o dom da generosidade, com desejo de partilhar a partir das nossas necessidades e não do nosso supérfluo. AMÉM.

DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO

Jesus é crucificado na cruz

VISITAR OS ENFERMOS

“...Estava doente e cuidastes-me...” Mt. 25,36

Reflexão: Jesus crucificado na cruz. Quantas pessoas doentes são crucificadas pelas suas doenças! Levo eu a luz de Cristo para os doentes? Citação: Tenho sede! Esta palavra dirige-se ao homem para dar-lhe a conhecer que não basta a morte, se os seus méritos não são aplicados…e não podem ser aplicados sem o consentimento de cada alma... Não se dirige a seu pai, não pede de beber, simplesmente diz tenho sede. (E. 33, p. 839)
Oração: Jesus, tu sofreste para que possamos viver. Dai-nos a sabedoria de assistir os outros para viverem em plenitude. AMÉM.

DÉCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO

Jesus morre na cruz

ROGAI A DEUS PELOS VIVOS E DEFUNTOS

“Tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.”Jo 19,30


Reflexão: Jesus mostrou-nos como viver e como morrer. Quantas pessoas vagueiam buscando a verdade! Tenho uma vida de simplicidade e integridade?
Citação: "Meu Deus, meu deus, porque me abandonaste? Jesus não disse meu pai! O que prova o sofrimento do filho de deus, o abandono da segunda pessoa da trindade. O pai abandona seu filho, para acolher a natureza humana. (E.33, pag 839)
Oração: Jesus, morreste a fim de que possamos viver. Concedei uma paz eterna a todos que morreram. AMÉM.

DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO

Jesus é despojado da Cruz

ENTERRAR OS MORTOS

“Eu vos garanto, todas as vezes que fizestes isto a um dos meus pequenos dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes.” Mt. 25,40

Reflexão: Jesus Deu tudo. Quantas vezes sou tentado apenas em dar o mínimo. Faço uma milha extra para ver os outros com os olhos de Cristo? Citação: ...Somos chamadas a honrar a Santa Cruz através de todo tipo de sofrimento, depois do exemplo de Nosso Senhor que nos ensina através da sua morte de cruz como as demais penas e dores que padeceu durante a sua vida humana, como ele mesmo no lo ensina, em diversas passagens do santo Evangelho. (E.57, p. 887)
Oração: Jesus, enchei nosso ser com o dom do respeito para que possamos ver o bem em cada pessoa que encontramos e tratá-lo com dignidade de filho de Deus. AMÉM.

DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO

Jesus é sepultado

DAR POUSADA AO PEREGRINO

“...Era forasteiro e me acolheste...” Mt. 25,35

Reflexão: Jesus veio e viveu entre nós. Muitas vezes, alguém se muda para um novo lugar ou situação. Acolho eu um estranho ou um convidado com cordialidade?
Citação: Preciso praticar uma humildade muito grande e uma desconfiança de mim mesma, abandonando-me continuamente à


providência e imitar tanto quanto puder, a Nosso Senhor que veio à terra para cumprir a Santíssima vontade de Deus seu pai, assistir o próximo em tudo que puder, tanto as almas como os corpos, pelo amor que Deus nos tem a todos igualmente. (E. 66, p. 897)
Oração: Jesus, Abrí nossos corações e disponde a nossa vontade para criar um espaço para cada pessoa que entra em nossa vida. AMEN.

DÉCIMA QUINTA ESTAÇÃO

Jesus Ressuscita da morte

“Estarei convosco todos os dias até ao fim dos tempos.” Mat. 28:20

Reflexão: Jesus ressuscitou dos mortos e vive entre nós. Quantas pessoas estão sobrecarregadas com os cuidados deste mundo! Será que o fato de que Jesus ressuscitou dos mortos marca a diferença na minha vida cotidiana?
Citação: Como o cervo suspira pelas águas, assim minha alma deseja meu Deus. Preparar-me-ei para ter um grande desejo de estar unida a Deus para que, assim como o alimento comunica suas qualidades ao corpo humano que o consome, assim a união de minha alma com Deus a torne semelhante a ele, e a comunhão do preciosíssimo corpo de meu Salvador me leve à imitação de sua vida Santíssima. (E. 59, p. 890)
Oração: Jesus, dá-nos o dom de valorizar a sua presença na Eucaristia. Aumente em nós a devoção genuína para a sua presença amável e eterna. AMÉM.

      *      

(Pensamentos de Sta Luísa), Ir. Louise Sullivan, F.C., Escritos espirituais de Sta Luísa de Marillac, Correspondência e pensamentos, Brooklyn, Nova, Iorque 1991) Escrito por Ir. Therese Mac Kinnon, F.C.
Filhas da Caridade, 4330 Olive Street, S. Louis, MO 63108-2622

segunda-feira, 30 de março de 2020

Papa Francisco e Bêncão Urbi et Orbi pela pandemia do Covid-19


A expressão latina “Urbi et Orbi” significa “à cidade [de Roma] e ao mundo”. Esse é o nome dado à bênção pronunciada pelo Papa na sacada central da Basílica São Pedro em três ocasiões. Todos os anos, o rito é celebrado no dia de Natal e no dia da Páscoa, as maiores festas cristãs. Além dessas datas, a bênção é concedida no dia da eleição de um novo Papa logo após o resultado do Conclave.

Nesta sexta-feira, dia 27 de março de 2020, o Papa Francisco deu uma Bênção “Urbi et Orbi” extraordinária, com a Praça de São Pedro vazia. Essa decisão foi tomada devido à atual pandemia de coronavírus (COVID-19) para permitir que as pessoas que acompanhem pelos meios de comunicação possam lucrar a indulgência plenária.

O Santo Padre dirigiu um momento de oração no átrio da Basílica de São Pedro, às 18h (horário de Roma, 14h no horário de Brasília). Depois de rezar com a Palavra de Deus e conduzir Adoração ao Santíssimo Sacramento, o Papa concedeu a Bênção “Urbi et Orbi” extraordinária.

Veja na integra a ORAÇÃO COM O SANTO PADRE - 27 de março de 2020

1. Escuta da Palavra de Deus

O Santo Padre:
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
R. Amém.

Oração
O Santo Padre:
Oremos. Ó Deus onipotente e misericordioso, olhai para a nossa dolorosa condição: confortai os vossos filhos e abri os nossos corações à esperança, para que sintamos em nosso meio a vossa presença de Pai. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. R. Amém. 

Evangelho
O leitor:
Escutai a Palavra do Senhor do Evangelho segundo Marcos 4, 35-41
Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse aos discípulos: “Passemos à outra margem!” E despedindo a multidão, e levaram-no consigo no barco, assim como estava. Outros barcos o acompanhavam. Surgiu, então, uma tempestade bem forte, que lançava as ondas dentro do barco, que se enchia de água. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre o travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram-lhe: “Mestre, não te importa que pereçamos?” Ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: “Silêncio! Cala-te!” O vento parou, e fez-se grande calmaria. Então Jesus lhes disse:“ Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” E, tomados de grande temor, diziam uns para os outros: “Quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?”


Meditação do Santo Padre:
O Santo Padre:
«Ao entardecer…» (Mc 4, 35): assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos.

Rever-nos nesta narrativa, é fácil; difícil é entender o comportamento de Jesus. Enquanto os discípulos naturalmente se sentem alarmados e desesperados, Ele está na popa, na parte do barco que se afunda primeiro... E que faz? Não obstante a tempestade, dorme tranquilamente, confiado no Pai (é a única vez no Evangelho que vemos Jesus a dormir). Acordam-No; mas, depois de acalmar o vento e as águas, Ele volta-Se para os discípulos em tom de censura: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40).

Procuremos compreender. Em que consiste esta falta de fé dos discípulos, que se contrapõe à confiança de Jesus? Não é que deixaram de crer N’Ele, pois invocam-No; mas vejamos como O invocam: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» (4, 38) Não Te importas: pensam que Jesus Se tenha desinteressado deles, não cuide deles. Entre nós, nas nossas famílias, uma das coisas que mais dói é ouvirmos dizer: «Não te importas de mim». É uma frase que fere e desencadeia turbulência no coração. Terá abalado também Jesus, pois não há ninguém que se importe mais de nós do que Ele. De facto, uma vez invocado, salva os seus discípulos desalentados.

A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade. A tempestade põe a descoberto todos os propósitos de «empacotar» e esquecer o que alimentou a alma dos nossos povos; todas as tentativas de anestesiar com hábitos aparentemente «salvadores», incapazes de fazer apelo às nossas raízes e evocar a memória dos nossos idosos, privando-nos assim da imunidade necessária para enfrentar as adversidades.

Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos.

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Nesta tarde, Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!»

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Senhor, lanças-nos um apelo, um apelo à fé. Esta não é tanto acreditar que Tu existes, como sobretudo vir a Ti e fiar-se de Ti. Nesta Quaresma, ressoa o teu apelo urgente: «Convertei-vos…». «Convertei-Vos a Mim de todo o vosso coração» (Jl 2, 12). Chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros. E podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que, no medo, reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas. É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. Perante o sofrimento, onde se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos, descobrimos e experimentamos a oração sacerdotal de Jesus: «Que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos! A oração e o serviço silencioso: são as nossas armas vencedoras.

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes, sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores, das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais.

O Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar. O Senhor desperta, para acordar e reanimar a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor. No meio deste isolamento que nos faz padecer a limitação de afetos e encontros e experimentar a falta de tantas coisas, ouçamos mais uma vez o anúncio que nos salva: Ele ressuscitou e vive ao nosso lado. Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (cf. Is 42, 3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança.

Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade. Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar. Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança. Aqui está a força da fé, que liberta do medo e dá esperança.

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Queridos irmãos e irmãs, deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de vos confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: «Não tenhais medo!» (Mt 14, 27). E nós, juntamente com Pedro, «confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós» (cf. 1 Ped 5, 7).


Recolhimento diante da imagem da “Salus Populi Romani” (canto “Sub tuum praesidium”).
Recolhimento diante do Crucifixo de São Marcelo (antífona à Cruz). 

2. Exposição, adoração e bênção eucarística

Exposição do Santíssimo Sacramento.

Adoração do Santíssimo Sacramento (canto “Adoro Te devote”). 

Súplica litânica
Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, realmente presente neste Santo Sacramento
Nós vos adoramos, Senhor
Nosso Salvador, Deus-conosco, fiel e rico em misericórdia
Nós vos adoramos, Senhor
Rei e Senhor da criação e da história
Nós vos adoramos, Senhor
Vencedor do pecado e da morte
Nós vos adoramos, Senhor
Amigo do homem, ressuscitado e vivo à direita do Pai
Nós vos adoramos, Senhor

Filho unigênito do Pai, descido do Céu para a nossa salvação
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Médico celeste, que vos dobrai sobre a nossa miséria
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Cordeiro imolado, que vos ofereceis para resgatar-nos do mal
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Bom Pastor, que dais a vida pelo rebanho que amais
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Pão vivo e remédio de imortalidade, que nos dais a Vida eterna
Nós cremos em Vós, ó Senhor

Do poder de Satanás e das seduções do mundo
Livrai-nos, ó Senhor
Do orgulho e da presunção de poder viver sem Vós
Livrai-nos, ó Senhor
Dos enganos do medo e da angústia
Livrai-nos, ó Senhor
Da incredulidade e do desespero
Livrai-nos, ó Senhor
Da dureza de coração e d incapacidade de amar
Livrai-nos, ó Senhor

De todos os males que afligem a humanidade
Salvai-nos, ó Senhor
Da fome, da pobreza e do egoísmo
Salvai-nos, ó Senhor
Das doenças, das epidemias e do medo do irmão
Salvai-nos, ó Senhor
Da loucura devastadora, dos interesses implacáveis e da violência
Salvai-nos, ó Senhor
Das insídias, da má informação e da manipulação das consciências
Salvai-nos, ó Senhor

Olhai para a vossa Igreja, que atravessa o deserto
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para a humanidade, aterrorizada pelo medo e pela angústia
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para os doentes e os moribundos, oprimidos pela solidão
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para os médicos e os trabalhadores da saúde, exaustos de cansaço
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para os políticos e os governantes, que carregam o peso das decisões
Consolai-nos, ó Senhor

Na hora da prova e da perturbação
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Na tentação e na fragilidade
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
No combate contra o mal e o pecado
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Na busca do verdadeiro bem e da verdadeira alegria
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Na decisão de permanecer em Vós e na vossa amizade
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor

Se o pecado nos oprime
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se o ódio nos fecha o coração
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se a dor nos visita
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se a indiferença nos angustia
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se a morte nos aniquila
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor

Oração
O Santo Padre:
Oremos. Senhor Jesus Cristo, neste admirável sacramento, nos deixastes o memorial da vossa paixão. Dai-nos venerar com tão grande amor o mistério do vosso Corpo e do vosso Sangue, que possamos colher continuamente os frutos da vossa redenção. Vós, que viveis e reinais com o Pai, na unidade do Espírito Santo. R/. Amém.

O Cardeal Ângelo Comastri anuncia a Bênção “urbi et orbi”, com anexada indulgência plenária: O Santo Padre Francisco a todos que recebem a bênção eucarística, também por meio da rádio, da televisão e das outras tecnologias de comunicação, concede a indulgência plenária na forma estabelecida pela Igreja. 

O Santo Padre dá a bênção com o Santíssimo Sacramento.

Aclamações
Bendito seja Deus.
Bendito seja seu santo Nome.
Bendito seja Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Bendito seja o Nome de Jesus.
Bendito seja o seu sacratíssimo Coração.
Bendito seja seu preciosíssimo Sangue.
Bendito seja Jesus no santíssimo Sacramento do altar.
Bendito seja o Espírito Santo Paráclito
Bendita seja a grande Mãe de Deus, Maria santíssima.
Bendita seja a sua Santa e Imaculada Conceição.
Bendita seja sua gloriosa Assunção.
Bendito seja o nome de Maria, Virgem e Mãe.
Bendito seja são José, seu castíssimo esposo.
Bendito seja Deus nos seus Anjos e nos seus Santos.